No dia 27 de janeiro, a partir das 16h, a Referência Galeria de Arte apresenta a mostra “Abaixo do sol, acima da terra”, de Valdson Ramos, com curadoria de Paulo Henrique Silva. São desenhos, esculturas e vídeo instalação produzidas a partir de 2022 em que o artista aborda questões relacionadas ao uso da religião como forma de manipulação e de opressão. A mostra que ocupa os dois andares da Referência fica em cartaz até o dia 2 de março, com visitação de segunda a sexta, das 10h às 19h, e sábado, das 10h às 15h. A Referência fica na 202 Norte Bloco B Loja 11, Subsolo, Asa Norte, Brasília DF. Telefone (61) 3963-3501 e Wpp (55 61) 98162-3111. No Instagram @referenciagaleria.
Esta é a terceira individual do artista e sua primeira em Brasília. Morando e trabalhando em Anápolis, Valdson elabora em seus trabalhos uma narrativa poética impregnada de iconografia religiosa, sobretudo a católica. Seus desenhos são feitos com água benta, vinho canônico e aquarela e, segundo o curador Paulo Henrique: “buscam traduzir o uso político da religiosidade como instrumento de opressão e manipulação”.
Através de um processo de produção elaborado que envolve a criação de cenas a partir das iconografias cristãs, em especial as católicas, o artista usa tecidos para envolvê-las e depois fotografá-las. ”O ato de cobrir um objeto usando do tecido atenta para a ocultação de uma imagem e, ao mesmo tempo, a revelação de outra. O tecido se torna, ele próprio, a matéria prima de uma nova figura“, diz o artista. Valdson desenha as imagens usando vinho canônico diluído em água benta. O vinho canônico é utilizado na celebração da missa, o principal culto do catolicismo. Produzido de acordo com as regras determinadas pela Igreja, esse vinho possui uma imensa carga simbólica, sendo associado, por meio do ritual, a uma aliança eterna entre Deus e o homem. Como pigmento, o vinho transforma-se em imagens que transcendem aos rituais religiosos, ganhando espaço e promovendo reflexões também em outros campos da sociedade.
“Como diluente no meu processo de produção, a água benta, um sacramental, mistura-se ao vinho canônico, suavizando as tonalidades e destacando a luz. Talvez, com isso, proporcionando a percepção da espiritualidade em suas formas plásticas. Há uma cumplicidade entre água e vinho, como no mistério da transformação, em que um complementa o outro. Nesse caso, a imagem passa a ser o todo por meio dessa junção, onde esses elementos se jogam como oponentes sobre o campo do imaginário promovendo diálogos na formação da estética”, analisa o artista.
Valdson Ramos participa de exposições desde 2007, quando participou e foi premiado no Salão Retrato de sua história. Galeria Antônio Sibasolly. Anápolis – GO. Em “Abaixo do sol, acima da terra”, Valdson apresenta um conjunto de obras resultantes de sua atual pesquisa, iniciada em 2015, quando produziu os primeiros trabalhos da série “Ver Ícone”, o que, por sua vez, retoma as investigações com a técnica de assemblage e seus desdobramentos. “A instalação “Sem título, de 2012”, composta por mãos de resina de poliéster e fitas religiosas da tradicional festa do Divino Pai Eterno de Trindade – GO, de fazer artesanal e moldadas em mãos de diferentes pessoas que percorreram em procissão a via dos romeiros rumo à festa do Divino – trajeto entre Goiânia e Trindade –, revela o interesse do artista em incorporar em suas narrativas poéticas questões estabelecidas entre o sagrado e o profano”, afirma o curador.
Na mostra que acontece na Referência, Valdson aponta para o lugar onde o sagrado e o profano se entrelaçam: o mundo físico em que vivemos, onde as experiências humanas acontecem, sujeitas às leis naturais, aos ciclos e às vivências comuns da humanidade. “É abaixo do sol e acima da terra que nascemos, crescemos, sonhamos e enfrentamos nossos medos. Seja por meio dos trabalhos que têm a rocha como elemento central e referência alusiva à pedra angular, ou obras que remetem a passagens bíblicas e elementos iconográficos que estabelecem possíveis relações entre o espiritual e o material, Ramos nos convida a ver o sagrado e o profano não como esferas mutuamente exclusivas, mas sim como coexistentes em um mesmo lugar”, sentencia o curador.
Perto de completar 30 anos de atuação no mercado de arte, a galerista Onice Moraes ressalta a importância de apresentar e dar visibilidade aos artistas visuais e curadores do Centro-Oeste e outras regiões fora dos eixos hegemônicos do sistema da arte brasileiro. “As coleções de arte, sejam de colecionadores iniciados ou de iniciantes, precisam incluir os artistas de sua região e de seu tempo. Arte é investimento, é decoração e, acima de tudo, é um registro da história e da reflexão sobre um momento específico dessa construção histórica”, diz Onice Moraes. “Um dos papéis do galerista é orientar a mirada dos colecionadores para esses artistas que produzem em sua vizinhança. Todos podem se beneficiar com a inclusão de artistas da região nas coleções privadas: As coleções ficam mais ricas, diversas e representativas; apostar em novos artistas pode ser um bom investimento patrimonial a médio e longo prazos; comprar de artistas da sua região fortalece o ecossistema da arte, permite que o artista continue com sua pesquisa e consequentemente valoriza a obra”, afirma a galerista.
Conversa
No dia 24 de fevereiro, sábado, às 11h, a Referência recebe o público para uma conversa com o artista e o curador. Com entrada gratuita, a fala abordará temas como processos de produção, religião e arte.
Sobre o artista
De Formoso (GO – 1972), Valdson Ramos vive e trabalha em Anápolis (GO). Graduado em Artes Visuais pela Universidade federal de Goiás (UFG) e Arte-educador na Secretaria de Educação do Estado de Goiás, atualmente é mestrando pela Universidade Estadual de Goiás (UEG) no Programa de Pós-Graduação em Territórios e Expressões Culturais no Cerrado (TECCER). Participou de exposições em diferentes espaços, entre eles o CCSP – Centro Cultural São Paulo (2018), o Palácio das Artes em Belo Horizonte (2018) e o MAC GO – Museu de Arte Contemporânea de Goiás (2022). Foi premiado no 21º Salão Anapolino de Artes (2015), no 15º Salão Nacional de Artes de Jataí (2016) e mais recentemente no Salão Nacional de Arte Contemporânea de Goiás (2022). Ultimamente, o artista dedica-se a elaborar uma poética a partir da investigação sobre o universo da iconografia religiosa no Brasil, se apropriando de símbolos sacros e utilizando elementos como água benta e vinho canônico como matéria dentro de sua produção para tratar de questões próprias a contemporaneidade.
Sobre o curador
Paulo Henrique Silva é graduado em Artes Visuais pela Universidade Federal de Goiás (UFG), e, desde 2004, é diretor da Galeria Antônio Sibasolly, onde iniciou sua trajetória como curador. Desde então se dedicou ao estudo e à pesquisa da produção de arte contemporânea da Região Centro-Oeste do Brasil, das relações instituídas entre a produção dos artistas e a formação de acervos. Dentre os projetos desenvolvidos nos últimos anos destacam-se as mostras Conversas – resistência e convergência com montagens na Casa das Onze Janelas em Belém/PA e Museu de Arte Contemporânea de Goiás em Goiânia/GO; Entre Acervos, com montagens em Buenos Aires e Belo Horizonte, no Palácio das Artes, Fotografia e Vídeo no Acervo do Mapa, com montagens na Casa de La Cultura/FNA – Buenos Aires/Argentina e no Centro Cultural Banco do Nordeste – Fortaleza/CE. Recentemente realizou o 1º Salão Nacional de Arte Contemporânea de Goiás, no MAC/GO em Goiânia/GO. Atualmente é responsável pela Gerência de Programas e Convênios e Curadoria de Artes Visuais da Secretaria de Integração Social, Esporte e Cultura de Anápolis – GO.
Serviço:
Abaixo do sol, acima da terra
De | Valdson Ramos
Desenhos, esculturas e vídeo instalação
Curadoria | Paulo Henrique Silva
Abertura | 27/01, das 16h às 20h
Visitação | Até 02/03
De segunda a sexta, das 10h às 19h
Sábado, das 10h às 15h
Entrada | Gratuita
Classificação indicativa | Livre para todos os públicos
Endereço | 202 Norte Bloco B Loja 11, Subsolo
Asa Norte – Brasília-DF
Telefone | (+55 61) 3963-3501
Wpp | (+55 61) 98162-3111
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