Segundo especialistas, os temporais que caem nas plantações podem apodrecer as raízes e causar necroses. Os agricultores sofrem com os prejuízos e os consumidores sentem o reflexo no bolso

O grande volume de chuva que caiu no DF entre dezembro de 2023 e o início deste ano tem prejudicado agricultores, que sofrem com a queda na produção e a perda de nutrientes do solo. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o acumulado esperado para janeiro de 2024 é de 206mm, mas quatro das cinco estações meteorológicas ultrapassaram esse número. Por isso, na hora da feira, os consumidores podem encontrar os produtos mais caros, principalmente as hortaliças, de acordo com especialistas.

Engenheira agrônoma e coordenadora de Operações da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater-DF), Adriana Nascimento explica que as chuvas afetam as hortaliças no apodrecimento de raízes e da parte aérea (por falta de respiração, baixa fotossíntese e falta de trocas gasosas). “Além disso, ocorre a criação de manchas, necroses e outros sintomas pelo favorecimento ao ataque de micro-organismos”, detalha. “Outro problema são os danos mecânicos, que são os impactos das gotas de chuva. Se forem muito fortes, podem quebrar as folhas, os ramos e causar queda de frutos”, detalha.

Para a especialista, a minimização desses danos está ligada a um controle preventivo maior por parte dos agricultores. “Falamos de um preparo de solo bem feito e uma boa aração, para que o solo fique mais poroso e tenha maior permeabilidade, ou seja, uma maior capacidade de drenagem”, ressalta. “Também é possível adiantar ou atrasar o plantio, para que a época de fortes chuvas não seja durante a colheita”, acrescenta.

De acordo com a engenheira agrônoma, o cultivo protegido é a melhor tecnologia aplicada no campo para reduzir os impactos das chuvas. “É o uso de algo parecido com um guarda-chuva, que protege as plantas e o terreno contra esses temporais”, exemplifica. “Também temos os túneis, que são as coberturas plásticas. Os túneis altos, inclusive, estão sendo muito utilizados no DF. É uma tecnologia extremamente importante, porque você pode cultivar as plantas no ano todo, tanto na época seca quanto na de chuvas”, reforça.

Qualidade afetada

Entre outras culturas, Joceilson Alves, 51 anos, produz hortaliças — como feijão-de-corda, berinjela, pimentão e pimenta-de-cheiro — em sua propriedade no Núcleo Rural Taquara, em Planaltina-DF. Segundo ele, a propriedade sofreu por conta das fortes chuvas do início do ano. “Quando ela veio, foi irregular. Sem contar que foi intensa e com fortes ventos”, afirma. “Tivemos pequenos prejuízos imediatos, a curto prazo, como a diminuição na produção, em função da capacidade reduzida de fecundação e formação dos frutos, por causa do alto percentual de umidade, o que reduziu a quantidade e a qualidade dos cultivares”, lamenta.

O produtor garante que tomou as precauções necessárias para aguentar um período chuvoso. “A gente preparou o solo para que ele recebesse certa quantidade de milímetros de água, entrasse pelos poros e absorvesse, como uma espuma”, comenta. “Só que, quando o volume é muito grande, fica saturado e o excesso de água cria uma enxurrada, o que estraga a plantação”, acrescenta. “Nesta safra que está plantada, a gente estima uma perda de 15%”, conclui Alves.

Consumidor

E não é só o produtor que sofre com a perda da produção. Professor de finanças do Ibmec, o economista William Baghdassarian aponta que a principal ligação entre as chuvas na lavoura e o bolso dos consumidores é a quantidade ofertada de produtos. “Quando a gente tem, por exemplo, um regime de chuva acima do que era previsto — não precisa nem ser uma chuva daquelas que alaga — acaba tendo uma variação na produção, normalmente para baixo”, esclarece. “Com isso, num primeiro momento, se a busca de determinado produto afetado pelas chuvas é alta, a tendência é uma elevação do preço”, ressalta.

Outra grande preocupação, segundo Baghdassarian, está ligada às mudanças climáticas, que causam incertezas na produção agrícola. “O que deve acontecer, daqui para frente, é uma maior volatilidade no preço dos alimentos. Se, antigamente, as pessoas tinham uma certa previsibilidade com relação ao valor desses produtos agrícolas, com essas mudanças, a gente vai ter muito menos”, alerta.

Mas como sair dessa alta? Para o economista, o que pode ser feito é deixar de lado o produto que teve alta e substituí-lo por outro similar. “Também pode se buscar preços menores. No caso de produtos agrícolas, o normal é comprar em mercados ou sacolões. Uma opção para essas pessoas é comprar nos grandes centros, onde se consegue comprar em quantidades maiores e com preços mais baixos”, aconselha Baghdassarian.

Comercialização em janeiro

Janeiro — fraca (menor oferta do produto, com propensão a elevação de preços)

Agrião, alface, couve, couve-flor, repolho, abóbora italiana, berinjela, jiló, maxixe, milho-verde, tomate, alho, batata-doce, beterraba, cará, cenoura, mandioca, abacate, abacaxi, banana (nanica, prata), laranja-pera, mamão formosa, maracujá, melancia, morango e tangerina ponkan

Fonte: Ceasa-DF | Reprodução Corrio