No coração da Asa Norte, um sebo em Brasília se destaca não apenas pelos livros que comercializa, mas pelos tesouros inesperados esquecidos entre suas páginas. Luana Pessoa e Sebastião Rodrigues, sócios do estabelecimento, decidiram transformar esses “achados” em uma cativante exposição que mergulha nas vidas dos antigos leitores.

Desde 2019, objetos como dinheiro, documentos, cartas de amor, chaves e até mesmo um folheto com um pedaço de tecido supostamente tocado por uma santa compõem um mural que revela uma variedade de emoções e memórias. A ideia nasceu da curiosidade e da compreensão de que esses objetos perdidos contam uma parte única da história de cada leitor.

“Encontrar esses objetos dentro dos livros é como ver uma parte do leitor que estava com ele. Os objetos são um pedaço de alguém”, compartilha Luana Pessoa.

A exposição, localizada estrategicamente na loja, já atrai olhares curiosos e se tornou uma atração única para os frequentadores do Porão Café. Juliane Verdade, frequentadora assídua, enxerga nos objetos deixados nos livros uma oportunidade única de comunicação entre os leitores. “Seria bem legal se todos pudessem deixar um recado dentro de um livro para o próximo leitor. É uma forma de carinho”, sugere Juliane.

Entre os “achados”: histórias de amor, dores profundas e surpresas inusitadas

A diversidade dos objetos encontrados reflete a riqueza das histórias que habitam os livros do Porão Café. Cartas com relatos emocionantes, como a de um filho na prisão escrevendo ao pai sobre saudades dos momentos simples, e uma carta de despedida após o fim de um relacionamento doloroso, compõem um mosaico humano que transcende o simples ato de ler.

A descoberta de dinheiro em espécie nos livros é comum, e os proprietários chegaram a encontrar R$126 em notas de real. Em outro episódio, duas notas de dólar se destacaram entre as páginas de uma obra.

Flores, folhas, chaves e até mesmo um vale-transporte antigo da década de 1990 revelam a diversidade dos objetos deixados por esquecimento ou como uma peculiar forma de marcar a passagem do tempo.

Entre os itens mais curiosos, encontra-se um folheto de Santa Teresinha do Menino Jesus com um pedaço de tecido que, segundo a crença popular, teria sido tocado pela santa. Além disso, um histórico escolar de 1982 da Universidade de Brasília (UnB) adiciona um toque nostálgico e educacional à exposição.

Fotografias, facilmente encontradas nos livros, contam suas próprias histórias. Uma mulher ao lado de duas crianças, reconhecida por um cliente, permanece sem ser reivindicada, revelando o mistério por trás de uma imagem.

O mural, ainda que exponha apenas uma fração dos tesouros descobertos, continua a inspirar visitantes, proporcionando uma visão encantadora do passado preservado nas páginas de livros esquecidos. O Porão Café não é apenas um sebo; é um portal para um universo de histórias perdidas e memórias não contadas.