O mês da mulher caminha para o final e, quando chega nesse ponto, eu gosto de fazer uma avaliação de tudo que foi conversado sobre o tema até agora. Começo com uma pesquisa do Banco Mundial, publicada pela revista Veja, que mostrou que a realidade no mercado de trabalho ainda é muito dura. Apenas metade das mulheres em idade ativa está empregada. Na mesma faixa etária, 80% dos homens estão empregados. E um dos principais motivos continua sendo a maternidade. Homens, colocados no mundo por mulheres, preferem não empregar mulheres… será que a mãe deles sabe disso?

E quando vamos olhar o mercado de trabalho, vemos que essas mulheres precisam mostrar o dobro de capacidade técnica em relação aos homens, para poderem ser reconhecidas e, pior, ganhando cerca de 30% menos. Trabalhamos o dobro, enfrentamos a famosa “jornada dupla” em casa e, para completar, sem a tão necessária rede de apoio.

E o que é essa rede de apoio? Vamos falar da principal delas: as creches. Não é possível falar de empoderamento feminino sem creches acessíveis a todas. Sem elas, as mulheres que não podem pagar pelo serviço ficam restritas aos trabalhos possíveis. As creches nunca são prioridade nas políticas públicas em geral. O que é pouco inteligente, porque a creche não só possibilita a entrada no mercado de uma força de trabalho poderosa como a das mulheres, mas também salva as crianças dos perigos das ruas.

E quem faz essa política pública que não beneficia as mulheres? Eles, novamente…
Não existe a menor possibilidade de um homem saber quais são as reais necessidades de uma mulher. Apenas mulheres sabem o que as mulheres passam. Quando falo isso, alguns homens pulam dois metros de altura. Eu encerro a conversa dizendo: você pode entrar de sunga em um beco escuro. Eu não posso fazer a mesma coisa nem de roupa de neve, que dirá de biquíni.

Somos maioria do eleitorado brasileiro (52%), mas ocupamos apenas 15% das vagas eletivas. Isso quer dizer que nós mulheres não estamos votando em mulheres.

Eu costumo dizer que toda luta tem suas fases. Nós já passamos da fase de falar sobre do comportamento sexual que escolhemos. Chegou a hora de ocupar os espaços de poder, seja no mercado de trabalho, seja na política.

Foi maravilhoso ter assistido a atriz Leila Diniz colocar um biquíni, grávida, para ir à praia. Sou muito grata a ela e a muitas outras mulheres que reforçaram a libertação do corpo feminino. Mas esse tempo já passou. Precisamos ir além. Não dá mais para esperar que homens façam políticas que atendam as nossas necessidades. Somos muitas, somos fortes e precisamos nos unir para vermos ações que efetivamente garantam a nossa segurança e o nosso bem-estar.

Andreia Salles é jornalista, escritora e empresária. Foi indicada como um dos 350 profissionais de Public Relations mais influentes do mundo, pelo PRWeek Global Power Book. É fundadora do Movimento Brasil Sem Drogas e foi Conselheira de Política sobre Drogas no CONEN-DF, onde participou de decisões ligadas a política de drogas da Capital Federal.