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Amanda Baroni – 11\01\2024 – 18:26

A inserção de novas fontes de geração e armazenamento de energia ampliou  as possibilidades  para o setor de elétrico, com a utilização de raios solares, dos ventos e de outras fontes de energia. Essas transformações também alteraram a dinâmica de trabalho das distribuidoras, criando novas oportunidades de rentabilidade mas também revelando suas fragilidades. 

O artigo “Os desafios das concessionárias de energia elétrica , do diretor executivo Francisco M. Pires Neto, revela as causas do problema: As  distribuidoras utilizam a mesma infraestrutura de 50 anos atrás. Segundo o artigo, as redes não evoluíram para encarar os novos desafios. “Ameaças à segurança, a possibilidade de uso de energia alternativa e intermitente [como as fontes renováveis], as metas de economia de energia para redução de picos de demanda e controles digitais para aumentar a confiabilidade e abreviar a restauração são alguns exemplos de desafios que terão que ser enfrentados nos próximos anos”. 

Inicialmente, as distribuidoras transportavam a energia proveniente de usinas geradoras, que antes concentravam esse mercado. Hoje, elas se deparam com um consumidor que também é produtor, como, por exemplo, nos casos das  usinas solares de mini e microgeração distribuída, que são instaladas em residências. De acordo com dados da Aneel, só de usinas solares residenciais que produzem a própria energia, o Brasil já registra mais de 1,8 milhão de unidades consumidoras (UCs), com predominância na região Centro-Oeste.

Dados: Agência Nacional de Energia Elétrica – Aneel.

Esse processo cria um novo fluxo de trabalho para as distribuidoras: além de entregar energia  de grandes usinas ao cliente final, elas também passam a  coordenar  excedentes de energia injetados pelos próprios clientes finais na rede. É um fluxo inverso. Um novo desafio  que convida as distribuidoras a repensarem seu papel no setor elétrico, além das eventuais adaptações a nova realidade.

Além disso,  há a ampliação do mercado de armazenamento de energia, para o atendimento a  carros elétricos, carregáveis  em eletropostos também abastecidos pelas distribuidoras.  Segundo dados da ABVE (Associação Brasileira do Veículo Elétrico) , entre março e julho de 2021, os pontos de recarga, entre públicos e semipúblicos no Brasil, cresceram de 500 para 754, sendo 735 em operação. Cerca de 50% de aumento em quatro meses! Ou seja, mais demanda por energia, mais pressão na rede. O que obriga a  uma  modernização da distribuição.

A preocupação com a redução da poluição é um incentivo para a ampliação das  usinas solares e o aumento da fabricação de s carros elétricos. Porém, será que as distribuidoras estão  preparadas para esse incremento? Não parece ser o caso da Light, uma das concessionárias mais antigas do país que vive uma verdadeira luta por sua sobrevivência financeira e mostra muita fragilidade quanto a um ponto fundamental: garantia de que a rede vai estar no lugar para funcionar. 

A empresa  é responsável pelo atendimento de 31 dos 92 municípios do Rio de Janeiro e, além de viver o desafio de solucionar uma dívida bilionária (estimada em 11 bilhões), tem como um dos pontos sensíveis o furto de energia.

Dados fornecidos pela  Light Rio, apontam que o furto de cabos cresceu 160% na capital do estado no último ano. Mais de 16 mil metros de cabos de cobre foram furtados, o equivalente a quatro voltas completas na Orla de Copacabana.  Em 2023, a companhia registrou 373 ocorrências de roubo, que deixaram mais de cento e noventa mil clientes sem luz por quase duas horas. Os atos de vandalismo fizeram a empresa gastar quase 4 milhões de reais para recompor o material. De acordo com o gerente de Operação e Manutenção da Rede Subterrânea da Light, Leonardo Bersot, uma das soluções para amenizar os furtos “é substituir o cobre, matéria prima dos cabos, por alumínio, que tem menor valor comercial.” Quando e em quanto tempo isso seria feito não foi informado até a conclusão dessa matéria.

Diante desse problema, como será possível conciliar a modernização da distribuição no Rio com a dificuldade de garantir a segurança da rede? Uma proposta foi apresentada no artigo publicado pelo professor da UFRJ, Jerson Kelman, no site Brasil Energia: a criação de  uma regulação mais rigorosa para perdas e inadimplência, bem planejada, porque  a região já tem a tarifa mais cara do pais. “O Rio constitui um ponto fora da curva, essa alternativa deve ser adotada com grande moderação porque não é sustentável colocar o peso da insustentabilidade da Light apenas sobres os ombros dos consumidores fluminenses, que pagam a conta de luz”, diz o professor. Ele  sugere ainda a retomada do programa “Áreas de Perda Zero – APZ” que trata da criação de sub-concessionárias em áreas de ocorrência de furtos. Segundo Kelman, ”a ideia é repartir o ganho derivado da redução das perdas não técnicas entre a Light e as sub-concessionárias.”  

De acordo com Nivalde J. de Castro em seu artigo “Os desafios tecnológicos impostos às distribuidoras de energia elétrica”, as empresas devem ocupar a partir de agora um papel mais ativo, com o objetivo de viabilizar “a gestão de fluxos bidiorecionais de energia, equilibrando a oferta e a demanda ao tempo real, [oferecendo] maior flexibilidade e resiliência na rede.” Ainda segundo o artigo, além das empresas concentrarem as atividades já habituais, poderão viabilizar novas formas de arrecadar receitas, obter mais controle para coordenar, operar e evitar perdas. O que poderia ser uma das alternativas para a Light.