Desde a infância, as consultas médicas eram permeadas pela preocupação da minha mãe, que sempre mencionava à doutora sobre a meia-irmã que sucumbira à leucemia. Mesmo sem conhecê-la, essa doença permanecia como um enigma para minha mente infantil. Era intrigante como minha mãe trazia esse assunto à tona sempre que eu ou minhas duas irmãs nos sentíamos mal.

Embora eu acreditasse que o câncer estivesse distante de mim, eventualmente me vi enfrentando essa doença na vida adulta.

Quando descobri que estava com câncer, meu filho já tinha 4 anos, e eu estava no auge da minha forma física. Havia realizado um tratamento de emagrecimento com o renomado Dr. Barakat de São Paulo, estava radiante, e mesmo assim, decidi aplicar GH. Mesmo tendo ouvido repetidas vezes sobre o risco de células cancerígenas hereditárias, ignorei os alertas, talvez impulsionada pela busca da perfeição.

Não há evidências científicas que comprovem a relação do GH com o câncer de glândula adrenal que desenvolvi. Entretanto, reflito frequentemente que, talvez, se não tivesse aplicado, poderia ter evitado essa batalha.

Cerca de 5 anos atrás, durante uma consulta para colocação do “chip da beleza”, uma ultrassonografia abdominal revelou um tumor de 11cm localizado acima do pâncreas. A médica, ao colocar o chip, alertou-me sobre a urgência de investigar essa descoberta. Inicialmente, não dei muita importância, pois não compreendia que o “tumor” poderia ser um câncer. No entanto, ao receber uma ligação da médica solicitando uma avaliação adicional com sua colega, percebi a gravidade da situação. A surpresa aumentou quando os médicos me consultaram em equipe, evidenciando a complexidade do caso e minha posição como um “caso especial”.

A decisão de realizar minha cirurgia de emergência veio instantaneamente e mesmo assim, eu não conseguia processar. Naquele momento, minha mente lutava para aceitar a realidade, questionando se estava enfrentando a morte iminente ou apenas alguns meses de vida. Às vésperas do réveillon, minha maior preocupação era se conseguiria viajar para Maceió, pois estava com tudo planejado.

Apesar da recomendação de repouso pós cirúrgico eu não conseguia parar. Mesmo com os pontos estourando e sangrando, eu continuava trabalhando. Minha vontade de viver era mais forte do que qualquer obstáculo que eu enfrentasse.

Durante a viagem, recordo-me de ser ridicularizada por não descer do barco encalhado, simplesmente porque eu era considerada uma “madame”. Poucos sabiam que eu estava completamente costurada por dentro, uma realidade que mantive em segredo para evitar qualquer sentimento de pena.

O momento crucial chegou quando tive que decidir sobre o tratamento quimioterápico, um desafio comum após o diagnóstico de câncer. Enquanto muitos temem a perda de cabelo, eu, com meu jeito descontraído, já pensava em comprar perucas coloridas. Porém, cada tratamento tem seus próprios efeitos colaterais, e no meu caso, eram desconhecidos. Os médicos alertaram que o corticoide poderia causar ganho de peso e inchaço, enquanto minha pele poderia parecer afetada por catapora.

Eu segurei o tratamento o máximo possível, até ser encaminhada para uma especialista em endocrinologia no ICESP, um sistema público de excelência onde recebi um cuidado excepcional. Descobri que era o caso número 134 do mundo, segundo a pesquisa da USP. Mesmo com exames que exigiam a coleta de urina por 24 horas, eu não deixava de aproveitar os momentos em restaurantes de São Paulo, carregando discretamente uma sacola bonita com um galão de urina dentro, determinada a não perder nenhum instante de vida.

Assim, encarei a doença de frente, respeitando o tratamento, e escapei dos efeitos colaterais mais comuns como inchaço e erupções cutâneas. O preço a pagar foram vômitos e diarreia, considerados menores diante da luta pela vida.

Mesmo nesse turbilhão de emoções, vivi a experiência do casamento e da separação. Não me entreguei à doença em nenhum momento. Com toda a convicção, encorajo você a abraçar a vida do seu jeito, pois é um presente delicado que merece ser valorizado com paixão. Escolhi persistir, e hoje, aqui estou, sentindo-me rejuvenescida e radiante.

Apesar do medo da morte ainda me acompanhar, especialmente por ter a responsabilidade de criar um filho sozinha, compreendo que é uma parte essencial da jornada humana. Que possamos acolher cada momento como algo único e precioso.

Mantenha a chama da esperança acesa, mesmo nos momentos mais sombrios, e acredite, assim como eu, em sua própria capacidade de superação. Não se esqueça de cuidar não apenas do corpo, mas também da mente e do espírito, buscando apoio emocional e encontrando momentos de felicidade e gratidão sempre que possível.