Hoje, compartilho com vocês um pouco sobre a culinária paraense, uma das mais ricas e saborosas do Brasil. Quero apresentar as delícias típicas da região para que vocês possam conhecê-las, assim como eu tive o prazer de descobrir! Recentemente, conversei com o chef Marquinhos Marajoara, nascido e criado na região conhecida como “bico de papagaio”, uma área que abrange o extremo norte do estado do Pará e é famosa por sua rica diversidade ecológica e cultural. Ele me revelou alguns dos pratos mais emblemáticos do Pará, como o jambu, vatapá, casca de caranguejo, charque e, claro, o meu favorito, o filhote!

FILHOTE

Começando pelo meu prato preferido, o filhote, um dos peixes mais icônicos e apreciados da Amazônia, especialmente no Pará. Este peixe de água doce, um dos maiores da região, é altamente valorizado por sua carne branca, macia e com poucas espinhas, o que o torna ideal para uma variedade de preparações. Entre os pratos mais populares estão o filhote na brasa, filhote ao tucupi, caldeirada de filhote, e, claro, o delicioso filhote na manteiga. A carne do filhote é suave, absorvendo perfeitamente os sabores dos temperos e ingredientes regionais, como tucupi, jambu e pimenta-de-cheiro. Além de ser uma iguaria na culinária paraense, o filhote tem importância econômica significativa, sendo amplamente pescado e vendido em feiras e mercados locais.

JAMBU

O jambu é uma planta herbácea de origem amazônica, famosa por causar uma sensação de leve formigamento e dormência na boca, devido à presença do espilantol em suas folhas e flores. Este efeito único faz do jambu um dos ingredientes mais característicos da cozinha paraense. Ele é comumente utilizado em pratos tradicionais, como o tucupi com jambu, onde suas folhas são cozidas junto com o tucupi e servidas com pato ou peixe. Outra aplicação clássica é no tacacá, onde o jambu é combinado com tucupi, goma de mandioca e camarão seco. Além de seu uso gastronômico, o jambu é valorizado na medicina popular por suas propriedades anestésicas, anti-inflamatórias e antioxidantes. Recentemente, o jambu tem ganhado destaque internacional, sendo utilizado em produtos como cachaças e licores, adicionando uma experiência sensorial única.

VATAPÁ

No Pará, o vatapá possui características próprias, diferenciando-se das versões mais conhecidas da Bahia. A versão paraense do vatapá integra a rica gastronomia amazônica e é muito apreciada na região. Enquanto o vatapá baiano é preparado com camarão seco, azeite de dendê, leite de coco e pão ou farinha de trigo, a versão paraense utiliza farinha de trigo ou de arroz, combinada com peixe ou frango, camarão, leite de coco, azeite de dendê, amendoim, castanha-do-pará e temperos como pimenta-de-cheiro, alho e cebola. A textura do vatapá paraense é cremosa, sendo geralmente servido como acompanhamento em pratos típicos, como o “pato no tucupi”, ou ao lado de arroz. Ele é uma presença constante no tradicional almoço do Círio de Nazaré, uma das maiores festas religiosas do Brasil, celebrada anualmente em Belém. A mistura de ingredientes reflete a fusão de influências indígenas, africanas e portuguesas, que moldam a culinária paraense.

CASCA DE CARANGUEJO

Diferente de outras preparações focadas na carne do caranguejo, a casca de caranguejo paraense é uma iguaria em que a carne desfiada do crustáceo é misturada com temperos típicos e servida dentro da própria carapaça. O preparo começa com a limpeza e cozimento dos caranguejos. Depois, a carne é desfiada e refogada com cebola, alho, pimentão, coentro, cebolinha e tomate, além de azeite de dendê, leite de coco e pimenta-de-cheiro, que conferem ao prato um sabor marcante. Em algumas receitas, acrescenta-se farinha de mandioca ou de trigo para dar consistência ao recheio. A mistura é então colocada de volta na carapaça e levada ao forno para gratinar, criando uma textura crocante por fora e cremosa por dentro. Este prato não só preserva o sabor autêntico do marisco, mas também reflete a tradição e a criatividade da culinária paraense.

CHARQUE

O charque é amplamente utilizado em várias regiões do Brasil, mas no Pará ele ocupa um lugar especial na culinária local, sendo um ingrediente versátil em diversos pratos tradicionais. No Pará, o charque é incorporado em receitas que vão desde caldos e sopas até recheios e acompanhamentos. Um dos pratos mais conhecidos é o “arroz de charque”, onde a carne desfiada é misturada com arroz e temperos locais, às vezes acompanhada de legumes como abóbora ou quiabo. Outra preparação popular é o “pirão de charque”, uma mistura da carne desfiada com farinha de mandioca, formando um purê espesso, tradicionalmente servido com peixes ou outras carnes. O charque paraense se destaca pela qualidade, resultado de um processo de salga cuidadoso e da secagem em condições climáticas favoráveis. Historicamente, o charque foi essencial para a subsistência de viajantes e populações ribeirinhas, onde a conservação da carne sem refrigeração era crucial. Hoje, ele é valorizado não apenas por sua durabilidade, mas também pelo sabor único que confere às preparações culinárias do Pará.

Todas essas iguarias estarão em destaque na COP30 no próximo ano, proporcionando aos participantes uma imersão na experiência cultural do Pará. A utilização criativa dos ingredientes locais resulta em pratos que são ao mesmo tempo tradicionais e ricos em sabor, exibindo a diversidade e a riqueza da culinária amazônica.