Considerado um dos vinhos mais célebres do mundo, o Châteauneuf-du-Pape é uma denominação de origem francesa ao sul do Vale do Rhône, e que ficou muito famosa por ter sido a residência oficial do Papa durante o século XIV, antes de ser novamente transferida para a Itália.

Châteauneuf-du-Pape significa “Novo Castelo do Papa” e sua história remonta a mudança do Papado de Roma para a cidade fortificada francesa de Avignon, no ano de 1309, após a divisão que surgiu entre a coroa francesa e o Papado, com pressões e ofensas mútuas, e com a indicação, pelo Rei da França, do arcebispo de Bordeaux, Bertrand de Got, como Papa Clemente V (1305-1314), que decidiu transferir o Papado para Avignon.

Foi o sucessor do Papa Clemente V, João XXII, quem construiu o castelo, entre os anos de 1317 e 1322, no alto da cidade de Châteauneuf. Além de defender a região, a fortaleza serviu de residência de verão para o Papa, com oliveiras e vinhas plantadas ao redor.

Nessa época, os rótulos produzidos em Châteauneuf-du-Pape passaram a ser conhecidos como Vin du Pape (Vinho do Papa), e ganharam fama na Europa durante os séculos subsequentes. No entanto, em 1863, na Vila de Roquemaure, na margem esquerda do Rhône, logo em frente a Châteauneuf-du-Pape, surgiu a maior praga da história da vitivinicultura mundial. Lá foram plantadas as primeiras mudas que continham a filoxera, que logo se espalhou por toda a França e também para a Europa.

Superada a crise da Filoxera, já em 1923, com a finalidade de proteger os viticultores locais, o Barão Pierre Le Roy de Boiseaumarié criou o sindicato dos produtores de Châteauneuf-du-Pape, estabelecendo regras para a produção de vinho, como a permissão do uso de 13 variedades distintas (alterada para 18 no ano de 2009) e volume de álcool mínimo de 12,5% (o mais alto de toda a França) entre outras obrigações. Essa foi a base para a criação da primeira Apelação de Origem Controlada (A.O.C.) da França, em 1935, e até hoje goza de grande prestígio.

Em 1937, o Barão também instituiu o brasão em estilo gótico composto pelo relevo das chaves cruzadas de São Pedro e a tiara papal como símbolos inequívocos estampados nas garrafas dos vinhos de Châteauneuf-du-Pape. As chaves cruzadas são o símbolo do papado, e representam as chaves do reino dos céus, concedidas por Jesus a São Pedro, considerado o primeiro papa. Com elas, o apóstolo guiaria a igreja e seria capaz de ligar ou desligar as coisas entre terra e céu.

As videiras são arbustos baixos e existem muitos tipos diferentes de solo, de argila a areia com a presença dos “galets” (grandes seixos lisos e ovalados), que ajudam a reter o calor do sol durante o dia, liberando-o durante a noite, contribuindo para o amadurecimento das uvas, bem como para a maior concentração de açúcar nos frutos. Auxiliam também na drenagem do solo e na retenção da umidade nos meses mais secos do ano (verão). Outra característica desta A.O.C. é que toda a colheita é feita à mão.

95% dos vinhos produzidos na AOC Chatêauneuf-du-Pape são tintos. Com uma produção anual de cerca de 14 milhões de garrafas, a principal variedade, dentre as 18 autorizadas (9 tintas e 9 brancas), é a Grenache, seguida pelas Syrah, Mouvèdre, Cinsault e Vaccarese. As outras 15 são: Grenache Blanc, Grenache Gris, Counoise, Muscardin, Terrer Noir, Picardan, Clairette Blanche, Clairette Rose, Picpoul Noir, Picpoul Blanc, Picpoul Gris, Roussanne e Bourboulenc

Na A.O.C. de Châteauneuf-du-Pape são produzidos vinhos brancos e tintos (não há rosés). Os brancos elaborados em Châteauneuf-du-Pape, conhecidos como Châteauneuf-du-Pape Blanc, são bastante aromáticos, relevando aromas de frutas brancas, como pêssego, notas florais, além de nuances de especiarias, como anis-estrelado, e na sua maioria, devem ser bebidos jovens.

Já os vinhos tintos, são complexos, com grande estrutura, encorpados, ricos e com teor alcoólico elevado. Quando jovens, possuem uma grande intensidade aromática de frutas, como morango e ameixa madura. A acidez costuma ser moderada e os taninos dependem muito do blend que o compõe. Os melhores exemplares costumam envelhecer muito bem e tendem a ser suculentos, grandiosos e majestosos

Por abranger uma grande área e uma vasta gama de variedades autorizadas, os perfis de qualidade dos rótulos são bem amplos, ou seja, encontramos desde vinhos simplesmente incríveis, que refletem maravilhosamente o terroir e o clima quente, até os que não agradam tanto, chegando a decepcionar. Cresce muito de importância a pesquisa e o conhecimento dos produtores. Na dúvida, opte pelos mais conceituados.