O câncer de pulmão, historicamente associado ao tabagismo, está apresentando um novo e alarmante perfil em nível global. Segundo uma pesquisa recente, enquanto os casos relacionados ao consumo de tabaco vêm diminuindo devido a políticas públicas de combate ao hábito de fumar, os casos entre não fumantes estão crescendo significativamente. O principal vilão por trás desse aumento? A poluição atmosférica.

Estudos indicam que a exposição prolongada a partículas tóxicas presentes na poluição do ar é um fator de risco determinante para o câncer de pulmão. Essas micropartículas penetram profundamente nos pulmões, causando inflamações crônicas, mutações celulares e, consequentemente, o desenvolvimento de tumores malignos. Em áreas urbanas, onde o tráfego intenso e as indústrias poluentes predominam, o risco é ainda maior.

De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 91% da população mundial vive em locais onde a qualidade do ar excede os limites recomendados. Essa exposição contínua eleva não apenas o risco de doenças respiratórias e cardiovasculares, mas também do câncer de pulmão.

Perfil dos Novos Casos

Os pesquisadores destacam que o câncer de pulmão em não fumantes apresenta características únicas, com fatores genéticos e ambientais desempenhando papéis importantes. O tipo de tumor mais comum observado nesse grupo é o adenocarcinoma, que muitas vezes está relacionado à poluição do ar e outros agentes cancerígenos ambientais.

O rastreamento do câncer de pulmão, geralmente realizado por meio de tomografia computadorizada de baixa dosagem, pode salvar vidas ao identificar a doença em estágios iniciais. Segundo especialistas, os grupos que devem considerar o rastreamento incluem:

  • Ex-fumantes e fumantes ativos: Pessoas com histórico significativo de consumo de cigarros ainda estão em risco elevado.
  • Moradores de áreas com alta poluição: Indivíduos que vivem em grandes centros urbanos ou próximos a regiões industriais devem ficar atentos.
  • Exposição ocupacional: Pessoas que trabalham em ambientes com alta exposição a poluentes, como fábricas e mineradoras.
  • Histórico familiar: Quem possui histórico de câncer de pulmão na família deve redobrar os cuidados, mesmo que nunca tenha fumado.

Embora o controle sobre a poluição atmosférica exija ações governamentais e políticas públicas eficazes, é possível adotar medidas individuais para reduzir a exposição:

  • Evitar áreas de tráfego intenso: Sempre que possível, prefira rotas menos poluídas e fique atento aos alertas de qualidade do ar.
  • Manter ambientes internos ventilados e purificados: Uso de purificadores de ar pode ajudar a reduzir os níveis de partículas tóxicas dentro de casa.
  • Investir em saúde pulmonar: Manter uma dieta equilibrada, praticar exercícios físicos e realizar check-ups regulares ajudam a proteger os pulmões.

Para o oncologista Dr. Rafael Martinez, do Hospital Israelita Albert Einstein, a conscientização sobre os fatores de risco não tabágicos é fundamental. “É preciso que a sociedade entenda que, embora o tabaco seja um grande vilão, há outros fatores ambientais que contribuem significativamente para o aumento dos casos de câncer de pulmão. Precisamos de políticas públicas que não só combatam o tabagismo, mas que também abordem o impacto da poluição e promovam ambientes mais saudáveis”, ressalta.

O câncer de pulmão não é mais uma doença exclusiva de fumantes. O aumento dos casos entre não fumantes destaca a urgência de medidas de combate à poluição e maior acesso ao rastreamento precoce. A luta contra essa doença exige uma abordagem integrada, que inclua mudanças ambientais, políticas públicas e maior conscientização individual.

Para moradores de Brasília e grandes centros urbanos do Brasil, o alerta não poderia ser mais relevante. A promoção de uma qualidade de ar mais limpa e o acesso ao diagnóstico precoce são os primeiros passos para enfrentar o impacto crescente da poluição sobre a saúde pública.