Amanda Baroni – 16\01\2023 – 15:48
O temporal do último fim de semana (13\01) afetou diversos bairros distribuídos pela capital, Baixada Fluminense e região metropolitana. De acordo com o portal Notícias de Nova Iguaçu, hoje (16\01) já são 12 mortes confirmadas.
Dados do Centro de Operações da Prefeitura do Rio, informaram que em Anchieta, choveu 259,2 milímetros no período de 24 horas. Foi aproximadamente 40% a mais do que a média histórica de janeiro naquela região em apenas 24 horas. Muito mais do que era esperado para o mês inteiro: 138,4% da média de janeiro (Sistema Alerta Rio).
O mesmo ocorreu em Irajá, onde o pluviômetro apontou 209,2 mm/24h (também recorde histórico para o bairro), 123,6% além do que chove em média neste mês. Em Madureira, a chuva atingiu 186,4mm/24h, 10% a mais que a média mensal (109,7%). Além disso, os rios Pavuna, Acari, Quitungo e Cachorros extravasaram.
Na capital, não existiam pontos de alagamento ou bolsões d’água na segunda-feira (15/01).
Um dos bairros mais afetados pelas chuvas foi a Pavuna, onde a Prefeitura do Rio montou um Gabinete de Crise Avançado. Somente domingo (14/01), foram 555 famílias atendidas, segundo a Secretaria de Assistência Social.
A Subprefeitura da Zona Norte informou que acionou os órgãos responsáveis para verificação do estado de conservação entorno da região da Pavuna e equipes especializadas. A assistência social já esteve na região dando apoio aos moradores e cerca de 1.500 pessoas afetadas pelas chuvas na zona norte já foram atendidas.
Região Metropolitana
Do outro lado da ponte, Niterói esteve em estágio de alerta máximo desde 2h15 do domingo (14). Na noite de sábado (13), a cidade atingiu o maior registro de chuva em um período de 24 horas desde que a medição foi iniciada no município: 120,2 milímetros ou 80% do volume esperado para todo o mês. Não foram registradas mortes ou ocorrências graves no município.
Também houve registro de deslizamentos de encosta e de desabamento de casas nas regiões do Boa Vista, Bonfim, Cavalão, São Francisco e Morro da Penha. A Defesa Civil da Prefeitura de Niterói foi acionada para 14 ocorrências de deslizamentos, sem relato de mortes nem de feridos graves, porém já contabiliza 21 pessoas desabrigadas e 43 desalojadas em atendimento por equipes da Secretaria Municipal de Assistência Social e Economia Solidária. Ao todo, 34 famílias foram atendidas até o momento, 2 famílias aceitaram acolhimento emergencial e foram encaminhadas para casa de familiares. Todas as famílias foram referenciadas aos Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) de seus territórios.
Também foram registradas 12 ocorrências de queda de árvores, atendidas pelo Corpo de Bombeiros e por equipes da Secretaria Municipal de Conservação e Serviços Públicos (Seconser).
Desde a noite de sexta (12), foram acionadas as sirenes dos seguintes locais: Morro do Estado; Morro da Penha; Boa Vista; Jurujuba; Cavalão; Preventório; Travessa Beltrão e Morro do Palácio e moradores dessas áreas foram orientados a se deslocarem para pontos de apoio com ajuda de voluntários e lideranças dos Núcleos Comunitários de Defesa Civil (Nudecs), equipes do Samu e da Assistência Social.
Funcionários da Companhia de Limpeza Urbana de Niterói (Clin) e da Seconser estiveram nas ruas da cidade para mitigar os efeitos do temporal. Mais de 300 toneladas de resíduos já foram recolhidas. A Seconser atua com 100 funcionários para poda e desobstrução de ralos. Equipes da NitTrans também participam dando apoio às ações e orientando o trânsito.
De acordo com a Prefeitura de Niterói, foram investidos R$ 236 milhões no ano passado em mais de 80 obras de contenção de encostas, onde 44 já estão concluídas e 21 bairros.
Dificuldades de escoamento na Baixada Fluminense
Na região da Baixada Fluminense, a situação foi crítica devido a cheia do Rio Iguaçu. Segundo o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) “As bombas do Canal do Outeiro não dão vazão suficiente da água, uma vez que a mesma é escoada para o mar, que também se encontra em nível alto.” O canal do Outeiro drena uma área de 12,47 km2, desembocando na margem direita do rio Iguaçu.
De acordo com o Inea, duas das cinco bombas da localidade estão operáveis e foram reativadas na atual gestão estadual. Contudo, vale pontuar que, mesmo com todas as cinco bombas em funcionamento, a proximidade do pôlder (espécie de muro de conteção) do Lote XV e do pôlder do Outeiro com o mar, não favorece para que o escoamento aconteça neste cenário de alto nível da maré.
Ainda segundo o Inea, “a região dos polders necessita de um plano de reocupação urbana, uma vez que foi projetada para atuar como bacia de grandes precipitações. Pelas características do local, a ocupação humana é inviabilizada e não recomendada.”
A agente de administração, Jhamylle Amorim, moradora de Pilar (um dos bairros mais afetados) teve a casa submersa no domingo. Ela conta que além dos bombeiros, está sendo feito grande mobilização por empresários, igrejas e voluntários locais, com a disponibilização de alimentos, abrigos e doações. “Não sabemos com precisão o que perdemos, mas perdemos muita coisa, estamos abalados tanto materialmente quanto psicologicamente”. Desabafa.
O especialista em Climatologia e Astronomia do Canal Geoastrodicas, Rodolfo Bonafim, explica que o temporal foi resultado do encontro de uma frente fria, vinda de São Paulo, com intensa massa de ar quente no estado do Rio de Janeiro. Além disso, também havia outra massa de ar no Espírito Santo, que bloqueou a frente fria.
O volume de chuva elevado foi outro fator que contribuiu para o problema: choveu mais de 254mm, o que equivale a 254 litros por metro quadrado. “Nem mesmo o sistema de drenagem mais potente conseguiria drenar esse volume em tão pouco tempo”, afirma. Além disso, ele conta que as regiões com sistemas de drenagem costumam ser locais onde há maior impermeabilização dos solos, o que também atrapalha o escoamento.
Segundo Rodolfo, “as chuvas afetaram as regiões mais pobres pois estas moradias se localizam em locais inapropriados para habitação, como beiras de encostas, rios e canais”.
O Governo do Estado comunicou que está com uma licitação no valor de 37 milhões de reais em status de homologação para a construção de uma casa de bombas, um sistema de comportas e complementação de parque urbano no local. As intervenções beneficiarão a região abrangida pelos municípios de Belford Roxo e Duque de Caxias, mas não irão mitigar o problema sozinhas. O Governo do Estado aguarda investimentos do Governo Federal via PAC para recuperação total da área em um projeto que dê conta de uma situação como a atual, que combina fortes chuvas e maré alta.
Pontos de acolhimento e informação
Em Niterói foram implantados postos de doações. A Prefeitura de Niterói está concentrando a arrecadação de donativos, por meio da Campanha Niterói Solidária, nos seguintes pontos:
– Secretaria Municipal de Direitos Humanos. Endereço: Rua Professor Plínio Leite, 86 – 168, subsolo (Caminho Niemeyer) – Centro.
– Administração Regional do Fonseca. Endereço: Horto do Fonseca – Alameda São Boaventura, nº 770 – Fonseca.
A orientação da Prefeitura de Niterói é de que as pessoas sigam atentas aos alertas da Defesa Civil através das mídias sociais, SMS 40199 e grupos de WhatsApp.
Também há o aplicativo Alerta DCNIT (sigla) com alertas sobre previsão de chuvas fortes, ressaca, ventos e condições do tempo para risco de incêndio em vegetação. O sistema também conta com botão que direciona o aparelho automaticamente para uma ligação com a Defesa Civil, gratuitamente através do 199.
Rio de Janeiro
Foram criados oito pontos de apoio temporários na zona norte. São eles:
– Escola Municipal Charles Anderson Weaver – (Rua Carlos Pachêco Ávila, S/N – Coelho Neto)
– Escola Municipal Barbosa Lima Sobrinho – (Rua do Dique, 166 – Jardim América )
– Escola Municipal Telêmaco Gonçalves – (Praça Ênio, S/N – Pavuna)
– Escola Municipal Herbet Moses – (Rua Cristiano Machado, S/N – Jardim América)
– Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo – (Rua Gen. Etchegoyen, 199 – Parque Columbia)
– Igreja Assembleia de Deus – (Travessa Embaú, 496 – Pavuna)
– Escola Municipal Escritor e Jornalista Daniel Piza – (Avenida Pref. Sá Lessa, 229 – Acari)
– Escola Municipal Bélgica – (Rua Francolim, 50 – Guadalupe)