No Brasil, a desigualdade racial se manifesta em diversas áreas, incluindo no setor público, no qual é evidenciada a falta de representantes pretos e indígenas, principalmente em posições de liderança e tomada de decisões. Cada vez mais, os governos são estimulados, e cobrados, quando o assunto é equidade racial. O tema protagonizou um dos painéis da 12ª edição do Congresso de Gestão Pública (Consad), que acontece, em Brasília, até amanhã (24), debatendo as possibilidades e soluções para a administração pública do país.


Segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), embora cerca de 54% da população brasileira seja negra, em 2019, a presença de servidores públicos negros correspondia a 38% entre os mais de 10 milhões de funcionários que compõem, atualmente, o quadro da administração pública. Esse número fica ainda menor entre os cargos de nível superior, ocupados por 27,3% de pessoas negras.


A agenda antirracista no âmbito do funcionalismo público passa, também, pela atenção no desenvolvimento profissional de pessoas negras e indígenas. O tema foi abordado no painel Um dos pontos que merece destaque quando se busca uma gestão pública mais efetiva e representativa, é o investimento em pessoas e em ações de promoção de equidade racial. Durante o painel, os participantes trouxeram sugestões para governos criarem condições políticas, técnicas e de gestão para planejar e implementar políticas de promoção de equidade étnico-racial, além de recomendar medidas para fortalecer os mecanismos de atração e seleção de lideranças negras e indígenas no serviço público, com destaque para a apresentação do documento Recomendações para a Promoção de Equidade Étnico-Racial no Serviço Público Brasileiro, publicação liderada pelo Movimento de Pessoa à Frente.


“Um dos pontos que merece destaque quando se busca uma gestão pública mais efetiva e representativa, é o investimento em pessoas e em ações de promoção de equidade racial”, explicou Denise Silva, gerente de Equidade Racial das organizações Instituto Gesto e Vetor Brasil, em processo de fusão. E completou: “Desenvolver políticas públicas e ações para reduzir as desigualdades é o ponto de partida, mas, para que tenham as mesmas oportunidades, é necessário, também, que todos estejam igualmente desenvolvidos, profissionalmente, para que possam concorrer e assumir cargos no setor. Nós estamos ajudando os governos a construir uma cultura voltada para a inclusão, que possa se fortalecer para entregar o seu melhor potencial para população brasileira. O papel do terceiro setor não é fazer pelos governos, mas temos a capacidade de apoiá-los neste grande desafio”.


Este ano, o Instituto Gesto e Vetor Brasil iniciaram um processo de fusão para somar forças no fortalecimento da capacidade institucional de governos locais e ampliar o impacto positivo do setor público brasileiro na sociedade por meio de soluções inovadoras voltadas para a educação e o desenvolvimento profissional. Atualmente, juntas, promovem ações no fomento à equidade racial e diversidade no setor público por meio do programa LídER+D, destinado a profissionais que atuam na administração pública para formar lideranças mais sensíveis à temática, do Programa Ubuntu, voltado para o desenvolvimento de profissionais públicos negros e indígenas que estão em cargos de gestão e querem promover a agenda antirracista em seus órgãos, e da Trilha Formativa de Lideranças em Educação para as Relações Étnico-Raciais (ERER), cujo objetivo é desenvolver profissionais engajados com o avanço da temática no âmbito educacional.