Nesta quarta-feira, a comunidade brasiliense e os fiéis católicos têm um motivo especial para comemorar. A histórica Igreja Nossa Senhora de Fátima, carinhosamente conhecida como “Igrejinha de Fátima”, completa 65 anos desde sua inauguração. Situada na Asa Sul de Brasília, esse tesouro arquitetônico é um marco significativo na capital do país.
A construção dessa pequena capela de alvenaria foi um evento notável durante o mandato de Juscelino Kubitschek. Em cumprimento a uma promessa feita pela primeira-dama Sara Kubitschek pela cura de sua filha Márcia, a igreja foi erguida em tempo recorde de cem dias. A sugestão para a promessa veio do presidente de Portugal, Craveiro Lopes, que estava no Brasil na época e relembrou à primeira-dama a importância das aparições de Nossa Senhora de Fátima.
Inicialmente, planejava-se construir um grande santuário nas Superquadras 307/308 Sul. No entanto, devido à necessidade urgente de uma igreja para a cerimônia de casamento da filha do presidente da Novacap, Israel Pinheiro, os planos foram modificados. Assim, surgiu a ideia de uma capela mais simples, resultando na atual Igreja Nossa Senhora de Fátima. Surpreendentemente, essa paróquia foi inaugurada antes mesmo da própria Brasília, no dia 28 de junho de 1958.
Projetada por ninguém menos que Oscar Niemeyer, a Igrejinha de Fátima foi tombada pela UNESCO como patrimônio cultural e histórico nacional em 7 de dezembro de 1987. Sua estrutura é composta por três pilares que sustentam uma laje, inspirados nos antigos chapéus usados pelas freiras. A parte externa é revestida com azulejos de Athos Bulcão, simbolizando a descida do Espírito Santo e a Estrela da Natividade. No interior, é possível contemplar as belas pinturas de Francisco Galeno, discípulo de Alfredo Volpi, o renomado artista italiano responsável pela primeira obra de arte da igreja.
A história e o encanto da Igrejinha de Fátima conquistam não apenas os moradores locais, mas também os turistas que visitam Brasília. O Frei Venildo Trevizan, sacerdote mais antigo da paróquia, destaca que, mesmo durante a construção, os trabalhadores já a consideravam um local de prece e pedidos de milagres. Para ele, a igrejinha representa o coração da capital.
Aos 96 anos, Nilza Teixeira Soares, bibliotecária, arquivista e tradutora, relembra com alegria sua mudança para Brasília em 1960. Desde então, ela se envolveu ativamente nas atividades da igreja e se tornou uma presença constante ao longo dos anos. Nilza, que é uma referência no campo da arquivologia brasileira, contribuiu com pesquisas históricas sobre a paróquia e até escreveu a biografia do Frei Bernardo Cansi, importante membro da academia de letras de Brasília e fundador da Missa dominical transmitida pela TV Brasília. Ela compartilha suas memórias sobre a igrejinha, inclusive a emocionante experiência das primeiras comunhões e a restauração das pinturas por Francisco Galeno.
Terezinha de Jesus, aposentada de 83 anos, recorda emocionada sua presença na primeira missa da paróquia. Na época, a expectativa era tão grande que muitas pessoas se amontoaram em caminhões para testemunhar o evento, devido à falta de espaço suficiente para a multidão ansiosa. Outra frequentadora antiga da paróquia, Zelma Capelli, aposentada, lembra com carinho de seus primeiros passos em Brasília e da simplicidade do local naquela época. Ela ressalta que a igrejinha sempre foi um refúgio para ela, uma devota de Nossa Senhora de Fátima.
Além de ser um local de fé e devoção, a Igrejinha de Fátima também se tornou um lugar especial para a celebração de momentos importantes na vida das pessoas. Recentemente, Joseane Prestes e Rônio Mota escolheram a igreja para a realização de seu casamento. Mesmo com sua estrutura modesta, o casal sentiu-se profundamente tocado pela atmosfera acolhedora e pela importância simbólica do local.