Sistema musical em braille requer poucas adaptações de professores e, com isso, insere e promove mais alunos com deficiências visuais no mundo da música  

Quem conhece o sistema musical em Braille sabe que ele requer poucas adaptações (sobretudo por parte dos professores) para inserir e promover alunos com deficiências visuais no mundo da música. E como inclusão é um dos temas centrais do projeto Música Para Todos, realizado pela Escola Brasileira de Choro, a instituição promove no final do mês um curso de Introdução à Musicografia em Braille, ou Musibraille, ministrado pela professora Dolores Tomé por três dias, de 29 a 31 de agosto, na Biblioteca Nacional de Brasília.

A professora questiona a disposição dos docentes brasileiros para serem mais didáticos e inclusivos: “Qual é o problema de um professor se capacitar para manejar um novo código?”, ela pergunta. “É apenas uma outra forma de escrever e ler música. Existem softwares estrangeiros que ensinam isso, mas são pagos, caros e não usam a nossa língua. O site www.musibraille.com.br é gratuito e tem todos os seus módulos abertos, do básico ao avançado.”

Dolores Tomé explica que o conteúdo do curso foi adaptado por um especialista. “A partir de apostilas confeccionadas por mim, o professor Antônio Borges, que trabalha com acessibilidade, criou uma maneira de facilitar o aprendizado de quem enxerga e de quem não enxerga”.

Em um mundo que considera ainda “muito retrógrado” em relação à acessibilidade, Dolores Tomé enfatiza que pessoas com deficiências (PCDs) têm tanta capacidade quanto alunos sem deficiência, mas precisam de adaptações, inclusões e sobretudo de apoio das instituições de ensino.

“A informação que você transmite a um cego é igual à informação dada a alguém que não tem deficiência visual. O Braille é somente um código, mas as escolas de música não estão preparadas para o ensino inclusivo. Até hoje deficientes visuais são impedidos de entrar em muitas delas”, afirma a professora. “É preciso aceitar, incluir e oferecer material de música com partituras em Braille.”

O diretor da Escola Brasileira de Choro, Henrique Neto, ressalta a importância de tornar cada vez mais acessível o ensino da música. Daí o apoio do projeto Música Para Todos a essa causa e a criação do curso de musicografia em Braille.

“Considero um marco a realização do curso. É uma forma de um novo público se aproximar da música a partir de uma ferramenta importantíssima e que não é muito divulgada, o formato Braille. Não é fácil encontrar lugares onde as pessoas com deficiência visual tenham acesso a esse conhecimento, e queremos contribuir para a formação da cidadania. Nossa ideia é possibilitar uma aproximação maior delas com a música”, propõe o diretor.

As inscrições estão abertas de segunda (12) à sexta-feira (16), mediante envio dos dados de requisição através do cursosmusicaparatodos@gmail.com, e com capacidade máxima de 20 alunos. Será necessário informar nome completo e telefone para contato.

O curso de Musibraille ocorrerá na quinta (29) e sexta-feira (30), das 8h às 18h, com uma hora de intervalo para almoço; e no sábado (31), das 8h ao meio-dia, na sala de cursos da Biblioteca Nacional de Brasília.

O Musibraille introdutório é voltado para pessoas maiores de 14 anos e que já tenham conhecimentos de leitura e escrita musical básicos, com noções de informática, e um equipamento (notebook) próprio para uso durante as aulas.

Os recursos de audiodescrição e acesso à Linguagem de Sinais Brasileira (Libras) devem ser solicitados na hora da inscrição ou através do contato (61) 9-9868-2012 (Michele).