O Brasil registrou o primeiro caso de carcinoma espinocelular associado a implante mamário de silicone, um tipo de câncer extremamente raro, identificado pela primeira vez na medicina em 1992 e com pouco mais de 20 ocorrências documentadas no mundo.

A investigação foi publicada no Annals of Surgical Oncology, em 23 de julho, e relata o caso de uma paciente de 38 anos que havia colocado próteses aos 20. Duas décadas depois, ela apresentou dor e aumento de volume em uma das mamas.

Exames apontaram acúmulo de líquido ao redor do implante e alterações na cápsula que o envolve, tecido que se forma naturalmente durante o processo de cicatrização. A biópsia confirmou a presença do carcinoma. Mesmo após a retirada do implante e a realização de uma mastectomia, a doença retornou rapidamente, e a paciente veio a óbito dez meses após o diagnóstico.

Possíveis causas e riscos

Os fatores de risco para o desenvolvimento do carcinoma espinocelular ligado a implantes ainda são imprecisos. Entretanto, inflamações crônicas na cápsula, irritações persistentes e o uso da prótese por mais de dez anos podem contribuir para a ocorrência do tumor. Apesar da raridade, trata-se de uma doença agressiva: segundo análises internacionais, a sobrevida média é de cerca de 15 meses, com recorrência em grande parte dos casos no primeiro ano.

Daniel Gimenes, oncologista da Oncoclínicas, explica sobre a segurança das próteses e as medidas a serem tomadas sob alguma suspeita. “Os implantes de mama são seguros e eficazes, tanto em cirurgias estéticas quanto reconstrutivas. Não há necessidade de um movimento para retirada preventiva das próteses, já que a ocorrência desse tipo de tumor é extremamente rara. O que recomendamos é que qualquer alteração percebida pela paciente seja avaliada por um especialista, garantindo acompanhamento adequado e segurança a longo prazo”, afirma o especialista.

Direcionamento mais preciso no tratamento

O avanço no conhecimento sobre o carcinoma espinocelular associado a implantes mamários abre caminho para definir critérios próprios de estadiamento da doença. Essa padronização é fundamental para identificar o grau de evolução do tumor e orientar condutas cirúrgicas e terapêuticas mais assertivas, especialmente em casos com potencial de metástase para órgãos como pulmão e fígado.

“Quanto mais compreendemos o comportamento desse tumor e estruturamos protocolos específicos para ele, maiores são as chances de indicar o tratamento certo, no momento certo. Esse tipo de conhecimento é decisivo para oferecer mais segurança e melhores resultados às pacientes”, comenta o médico.

Câncer de mama

O câncer de mama figura entre os mais incidentes no Brasil, representando 10,5% das pessoas diagnosticadas com tumores malignos. Para este ano, o Instituto Nacional do Câncer (INCA) estima que dos 704 mil novos casos de câncer, 74 mil serão de mama, o que o torna líder do ranking dos que mais afetam a população feminina. 

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de 2,3 milhões de pessoas em todo o mundo foram diagnosticadas com câncer de mama no ano de 2022, o que o faz ser o segundo no ranking de tumores mais incidentes em todo o mundo – atrás apenas do câncer de pulmão.

A realidade dos países em desenvolvimento, como o Brasil, é de um alto número de diagnósticos tardios. Em 2022, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, o câncer de mama foi responsável por 22.189 mortes de mulheres brasileiras, segundo o Inca. Isso se deve, em grande parte, ao fato de muitos casos só serem descobertos em estágios avançados da doença.

“Quando o câncer de mama é descoberto em fases iniciais, as chances de cura são significativamente maiores — e os exames de rastreamento são fundamentais nesse processo. A mamografia, por exemplo, consegue revelar alterações mínimas, invisíveis ao toque. De modo geral, recomenda-se que o exame seja feito anualmente a partir dos 40 anos, mas esse início pode ser antecipado em mulheres com histórico familiar ou outros fatores de risco. Adiar ou negligenciar o rastreamento significa, muitas vezes, perder a oportunidade de intervir precocemente” finaliza Gimenes