Com a simplificação do sistema tributário brasileiro, corporações enfrentam o desafio de adaptar suas operações às novas exigências fiscais, enquanto aguardam definições regulatórias cruciais
No cenário fiscal brasileiro, a aguardada Reforma Tributária sai do papel e abre caminho para uma transformação que busca simplificar a complexa teia de tributos que as empresas enfrentam atualmente. Programada para entrar em fase de testes já no próximo ano, a reforma introduz o Imposto Sobre Bens e Serviços – IBS e a Contribuição Sobre Bens e Serviços – CBS como os novos pilares do sistema, aproximando o Brasil dos modelos praticados por outros países que fazem parte da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE.
Entretanto, apesar do promissor potencial de simplificação e redução de burocracias, as corporações devem se antecipar e preparar suas operações para cumprir com as novas obrigações fiscais, num processo que requer ajustes internos consideráveis, bem como a adaptação tecnológica para garantir conformidade com o futuro regulatório ainda em evolução.
Para enfrentar os desafios impostos pela reforma tributária e evitar gargalos operacionais em 2026, as empresas precisam agir imediatamente para revisar estruturalmente seus processos de negócios. “É crucial a formação de um comitê interno que abarque áreas como jurídico, fiscal, contábil, financeiro, TI, logística e RH, garantindo uma transição harmoniosa e contínua. A adaptação dos sistemas de gestão para atender ao novo padrão, permitindo simulações, cálculos e emissões de notas fiscais corretamente, é um dos passos prioritários”, explica Sueny Almeida, advogada tributarista do escritório Veloso de Melo.
Além disso, é vital revisar contratos com fornecedores e clientes, incluindo cláusulas de repasse e aproveitamento de créditos, e mapear as operações de compras, vendas, interestaduais e internacionais para entender o impacto sobre margens e precificação. A capacitação das equipes de controladoria, fiscal, contabilidade e vendas deverá ser intensificada para reduzir a dependência de consultorias externas e, ao mesmo tempo, negociar benefícios trabalhistas de forma formalizada, permitindo que esses custos também gerem créditos tributários.
“A importância desses ajustes é crucial, pois a reforma altera a dinâmica do fluxo de caixa. Com a implementação do split payment (um mecanismo de pagamento fracionado), os tributos serão recolhidos pelas instituições financeiras adquirentes no ato do pagamento, eliminando a utilização de impostos como fonte temporária de capital de giro pelas empresas”, complementa Jacques Veloso, advogado tributarista do escritório Veloso de Melo.
Desafios e oportunidades: entenda os riscos que as empresas correm se não se prepararem
As empresas brasileiras precisam se preparar para uma mudança significativa na forma de contabilizar suas operações fiscais devido à nova exigência de destacar os tributos separadamente do preço. Este ajuste representa uma transformação inédita na gestão financeira, pois a separação entre receita e tributo altera a contabilização da receita bruta.
A transição, que se estenderá por quase uma década, demanda das companhias muita resiliência organizacional e investimento contínuo em tecnologia. A inabilidade de adaptação pode resultar na incapacidade de emitir notas fiscais já em 2026, deixando claro que não haverá espaço para improvisos. Aqueles que começarem a se adaptar agora estarão em posição de vantagem competitiva quando a reforma tributária alcançar sua implementação total.