No dia 19 de junho, o jovem Rodrigo da Silva Boschen, de 22 anos, foi brutalmente espancado até a morte após ser acusado de furtar uma barra de chocolate em um supermercado da rede Muffato, no bairro Portão. O caso, registrado por câmeras de segurança e divulgado pelo programa Fantástico, chocou o país e reacendeu discussões profundas sobre segurança privada, racismo estrutural e justiça pelas próprias mãos.
Denúncia aceita: homicídio qualificado com quatro agravantes
A Justiça do Paraná aceitou a denúncia do Ministério Público contra quatro homens envolvidos no crime: dois seguranças, um funcionário do setor de hortifruti e um motociclista que fazia entregas. Eles agora respondem por homicídio qualificado, com os seguintes agravantes:
- Motivo torpe
- Motivo fútil
- Meio cruel
- Recurso que dificultou a defesa da vítima
Rodrigo foi perseguido, imobilizado com um golpe de “mata-leão”, agredido com chutes e socos, amarrado com um cinto e abandonado em via pública, com o corpo exposto e sem socorro médico. A promotoria classificou o ato como uma “retaliação pessoal absolutamente desproporcional ao suposto dano causado”.
Imagens revelam sequência de agressões
As gravações mostram Rodrigo sendo abordado por um segurança, entregando o chocolate e tentando sair do local. Ao correr, foi perseguido por outros funcionários e interceptado por um motociclista. A sequência culmina em agressões brutais, com o jovem sendo arrastado por cerca de 450 metros e deixado desacordado na rua.
Segurança clandestina e negligência institucional
A Polícia Federal revelou que a empresa terceirizada responsável pela vigilância no supermercado operava de forma clandestina, sem credenciamento legal para atuar na área de segurança privada. O Ministério Público também investiga se houve omissão ou conivência por parte da rede supermercadista e dos órgãos fiscalizadores.
Racismo estrutural e justiça seletiva
O caso levanta questões sobre o tratamento dado a jovens negros em situações de suspeita. A promotoria e especialistas apontam que a violência desproporcional reflete um padrão de racismo estrutural, onde a cor da pele e a condição social influenciam diretamente na resposta institucional e privada à suposta infração.
Repercussão e protestos
A família de Rodrigo, moradores e ativistas realizaram manifestações em frente ao supermercado, exigindo justiça e responsabilização dos envolvidos.
“Uma selvageria dessas por causa de um chocolate. Isso não é segurança, é barbárie”, declarou o pai da vítima, Ronaldo Boschen.
Conclusão: quando o controle vira execução
O assassinato de Rodrigo Boschen não é apenas um caso isolado — é um alerta sobre os riscos da terceirização da segurança, da ausência de protocolos humanizados e da cultura de punição imediata. A Justiça agora tem a missão de não apenas punir os culpados, mas de sinalizar que a vida humana não pode ser relativizada por um produto.