A Conferência Brasil-Alemanha: Desfossilização e Hidrogênio em Complexos Portuários discutiu sobre os desafios na redução de fontes não renováveis e a implantação do hidrogênio em portos no país. O evento internacional realizado no Rio de Janeiro, na última terça (09/04), reuniu representantes e entidades do setor marítimo e energético para conversarem sobre as adaptações e oportunidades em conjunto.
De acordo com a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), o Brasil possui 235 instalações portuárias, públicas e privadas, entre marítimas e fluviais. O transporte marítimo é de grande relevância para o comércio internacional, porém contribui com cerca de 3% das emissões de dióxido de carbono (relatório da International Council on Clena Transportation – ICCT), o que gera a necessidade do setor em buscar alternativas de combustíveis menos poluentes.
O hidrogênio, por exemplo é umas delas e o Brasil tem a vantagem de ofertá-lo em abundância. O país pode produzi-lo de forma 100% limpa, utilizando fontes renováveis como a eólica e solar, a partir do processo chamado eletrólise, que separa as moléculas de hidrogênio e oxigênio. O que promove uma cadeia de emissões mínimas. Segundo o documento, o hidrogênio renovável brasileiro obtido por eletrólise tem emissões 96% menores que as do gasóleo marinho.
Já o termo “desfossilização” se trata da redução do uso de energia fóssil, como o carvão e petróleo, em toda cadeia produtiva, pois são etes os responsáveis pela emissão excessiva de carbono no planeta, a partir da era industrial.
Na conversa, Isabela Santos, Coordenadora da empresa H2Uppp, esclareceu que a principal importância de tratar do tema em portos vem da localização estratégica deles. “Além dos portos serem uma porta de entrada para o país, são o contato com o mundo, podendo utilizar [do hidrogênio] e comercializá-lo para empresas do entorno e externas”, afirma.
De acordo com Patrícia Stelling, consultora da Empresa de Pesquisa Energética, o hidrogênio sempre esteve presente na matriz brasileira e ganhou destaque na transição pela sua oferta no Brasil. “Há variadas formas de captação e em seu estágio intermediário pode ser transformado em combustível e em outros produtos, propiciando a redução de fósseis em diversos processos.” No painel de dados da EPE, o potencial de produção da substância no Brasil é de 12 toneladas por ano.
Por esse motivo, o representante da alemã HPC Hamburg Port Consulting GmbH, Marcelo D’Antona, afirma que o Brasil e Alemanha são “o match perfeito”. Ele explicou que em 2023 a Alemanha avaliou que terá uma demanda de 17% na sua matriz energética por hidrogênio, mas que não conseguirá supri-la, precisando importar. “Alemanha é a principal interessada no mercado. Por um lado temos o maior país em potencial de exportação [Brasil], por outro o maior consumidor da Europa. A possibilidade de negócios entre ambos me parecem ilimitados.”
Patrícia reforçou que para uma nação poder avançar nesse sentido é importante observar a oferta local e que, no caso do Brasil, de ampla variedade de recursos naturais, esse projeto se torna complexo. “A estratégia é fundamental na garantia de segurança energética. Temos usinas solares, eólicas, de biomassa e o petróleo com os menores níveis de emissão no mundo. Devemos levar em consideração a competitividade, a manutenção do fornecimento, desenvolvimento socioeconômico num país de desigualdades e obviamente os impactos ambientais disso.”
De acordo com ela, o planejamento integra todas fontes de energia, também considerando as necessidades futuras de energia do país. Patrícia afirma ainda que apesar de promissor, a deliberação sobre o assunto é o primeiro passo. “O desenvolvimento desse mercado de baixa emissão deve ser construído gradativamente. Apesar do potencial enorme é necessária avaliação minuciosa para se construir um mercado de hidrogênio”, conclui.