Telmo Ximenes Fotografia

Concebido pela atriz Caísa Tibúrcio, SerTão a Gosto leva ao público mesas gastronômicas com chefs convidadas e emocionante espetáculo teatral regado a música, risos, lágrimas, cachaça e galinhada

Depois de estrear no Galpão Cine Horto, em Belo Horizonte, no início do semestre, o projeto SerTão a Gosto reúne comida regional, cultura brasileira, música e teatro em circulação nacional pelos palcos de Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro. A próxima parada será na cidade de origem da trupe, de 17 a 20 de outubro, no Teatro Sesc Ary Barroso (504 Sul), na capital federal. 

O projeto consiste na promoção de mesas gastronômicas com chefs convidadas e a apresentação do espetáculo cênico-musical-gastronômico “Enluarada – Uma Epopeia Sertaneja”. A concepção e atuação são assinadas pela atriz Caísa Tibúrcio e a realização é da Casulo Teatro, com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal (FAC/DF), .

A experiência gastronômica será ainda mais aprofundada na etapa Brasília de SerTão a Gosto, que reunirá um time de renomadas chefs para a realização de três mesas gastronômicas nas quais o público poderá mergulhar na relação entre comida e cultura por meio de receitas carregadas de história.

MESAS GASTRONÔMICAS

É a primeira vez que o espetáculo Enluarada, criado em 2020, faz junção com as mesas gastronômicas e com a participação de chefs de cozinha. Em Belo Horizonte, a montagem da mesa gastronômica ocorreu no dia 29 de agosto, às 20h. A convidada foi a chef e historiadora Márcia Nunes, do restaurante Dona Lucinha, que virá também para a etapa Brasília.

Na capital federal o projeto será ampliado e contará com três mesas gastronômicas ao todo. Além de Márcia, virão compor o time de chefs convidadas Lydia Gonzalez, do premiado Angá Ateliê Culinário (RJ), e a chef e pesquisadora da culinária africana Aline Chermoula (SP). Cada qual mostrará uma receita clássica do seu repertório produzido em uma panela só, ao passo em que conversam com a plateia sobre o que está por trás de cada prato, com a mediação do crítico gastronômico Guilherme Lobão. 

A estreia do projeto em Brasília acontece no dia 17 e vai até 20 de outubro, com apresentações diárias do espetáculo-solo “Enluarada”, sempre às 20h. As mesas gastronômicas ocorrerão no período da tarde, sempre às 16h30, começando pela apresentação da chef Aline Chermoula, na sexta (17/10), seguido pela chef Márcia Nunes, no domingo (19) e pela chef Lydia Gonzalez, na segunda (20/10). 

Toda a programação é gratuita e os ingressos podem ser retirados no dia do evento, antes do início de cada atividade, na bilheteria do Teatro Sesc Ary Barroso ou pela Sympla.

ENLUARADA

O espetáculo “Enluarada – Uma Epopeia Sertaneja” é um monólogo que tem como alicerce o trabalho de dramaturgia pessoal e de composição da atriz Caísa Tibúrcio, que busca dar materialidade ao invisível, ao acionar suas memórias para serem traduzidas em cena com as significações e interesses do agora. A peça dá abertura para a ficcionalização, num jogo de rememoração para o nascedouro de uma dramaturgia autoral ficcional. 

Em uma perspectiva descolonial, o espetáculo é um convite ao espectador para adentrar o interior brasileiro. Faz uma espécie de etnografia propositiva ao dar vozes à história e aos saberes orais e trabalha com elementos constitutivos da tradição popular, como ritos, mitos, culinária, símbolos, histórias tradicionais, crenças e tudo aquilo que foi criado e conservado por aqueles que existiram antes de nós.

No palco, uma típica cozinha mineira é o cenário escolhido para contar a história da jovem Maroca e seu grande amor, Heitor, vaqueiro e também violeiro. Enquanto prepara uma galinhada – passando por todos os processos, desde a retirada da pele do frango, o corte em pedaços, depois o cozimento e finalização – a atriz narra uma epopeia no interior mineiro, misturando histórias inventadas e lembradas, a partir de vivências familiares. Ao término do preparo, que coincide com o fim do espetáculo, Caísa oferece a comida ao público como uma grande celebração do teatro. 

“Como se trata de uma tradição, acabamos escolhendo a cozinha, que é um lugar que, muitas vezes, dentro dessa cultura patriarcal em que a gente vive, é um lugar de opressão, de sobrecarga para as mulheres.”, justifica Caísa. “Eu quis trazer esse olhar um pouco mais poético porque, muitas vezes, a cozinha é um lugar de poder, de muito afeto. Em Minas, muitas coisas, muitas histórias giram em torno desse espaço, e na minha casa sempre foi assim, uma vez que a cozinha tem essa centralidade social no modo de ser e de se fazer entre as pessoas”, completa. 

A ideia de criar um prato durante o espetáculo surgiu a partir desse lugar da cozinha. “Eu logo pensei na galinhada pela praticidade, pelos alimentos que a gente usaria, e depois veio o desejo de trabalhar com a linguagem dos objetos para poder conduzir a manipulação, o significado, a poética em cima desses alimentos e utensílios”, conta Caísa.

Para a montagem do projeto, a artista foi movida pelo desejo de falar de um Brasil que é muito pouco falado e de contar histórias que são conduzidas pelas pessoas, especialmente pelas mulheres. “Eu sou de Brasília, que é uma cidade formada por pessoas de todo o país, mas minha família é mineira. Passei a minha infância indo para Minas Gerais vendo Folias de Reis e convivendo com essa cultura, que também possui um repertório que é o sertanejo raiz, que eu gosto muito, e então toda essa musicalidade, cultura e ambiente fazem parte da minha memória afetiva, da minha formação”, relata. 

Caísa quis trazer tudo isso para o projeto, mas, ao mesmo tempo, perceber esse universo pelo olhar das mulheres. “No mestrado, estava fazendo uma pesquisa com as mulheres da minha família, ouvindo suas histórias, confissões, sensações, emoções e até mesmo pequenos detalhes como os objetos, que foram compondo esse olhar. Fiz um recorte a partir das narrativas femininas, mas traçando uma relação com o imaginário popular”, propõe.

Segundo Caísa Tibúrcio, esse olhar feminino trouxe uma poética mais universal, com temas que fazem parte das relações humanas, independentemente da região. “Hoje temos um discurso muito globalizante, inclusive sobre o que é o teatro contemporâneo, mas eu queria fazer um trabalho contemporâneo que tivesse uma cara bem brasileira, realçando que a cultura é um marcador de espaço, é o que forma a nossa identidade”, diz. 

A cultura, para ela, é o que nos distingue, por isso quis marcar um trabalho que tivesse bem a cara desse Brasil interiorano, trazendo uma relação mais humana, que passa pelas emoções. “O retorno do público é sempre muito legal, percebemos essa universalidade quando as pessoas trazem seus depoimentos que também dialogam com as temáticas do espetáculo a partir de suas vivências íntimas, afetivas, universais. A partir de uma estética mineira a gente consegue chegar numa emoção que é muito genuína do ser humano”, ressalta.

A atriz conta que o processo de composição da peça passou por um momento de pesquisa do “Teatro de Objetos” com o Grupo Sobrevento, de São Paulo, referência nessa técnica. “Sandra Vargas, integrante do grupo, desenhou, no início do processo, junto comigo e com o diretor Denis Camargo, a manipulação dos objetos da cozinha e dos alimentos. O trabalho dela foi muito importante, pois o desenho das ações foi conduzido com olhar dessa linguagem”, diz.

Após a apresentação em Brasília, o projeto SerTão a Gosto será realizado em outras suas capitais do país, Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP), com participação, respectivamente, das chefs Lydia Gonzalez e Aline Chermoula. Ao todo, o projeto conta com seis mesas gastronômicas e dez apresentações do espetáculo “Enluarada – Uma Epopeia Sertaneja”.

ACESSIBILIDADE

O projeto conta com algumas medidas de acessibilidade para garantir a democratização e ampliar o acesso para o máximo de pessoas possível. Na sexta (17/10) e no sábado (18/10) a apresentação do espetáculo “Enluarada – Uma Epopeia Sertaneja” contará com intérprete de Libras e, no domingo (19/10) e na segunda (20/10), com audiodescrição ao vivo para pessoas cegas ou de baixa visão. 

Em ambos os dias o projeto irá oferecer transporte gratuito, em parceria com instituições locais. Além disso, o projeto conta com programa em Braille e letra ampliada.

TRILHA MUSICAL 

A música também é componente essencial de “Enluarada”. Além de narrar a história, a artista canta e toca acordeom. “As canções mineiras sempre me atraíram bastante, então muito dessa pesquisa, dessa narrativa, foram conduzidas para se aproximar dessa sonoridade. A música é muito importante no espetáculo porque ela vai conduzindo e ambientando essa história que se passa no interior de Minas Gerais, mas eu procurei dar uma dimensão universal para uma trama simples de uma relação de amor e morte”, diz Caísa.

A peça conta com composições assinadas por Caísa, em parceria com a irmã, Milena Tibúrcio, e o pai, Caio. A dupla Zé Mulato & Cassiano, indicada ao Grammy Latino em 2019 na categoria “Melhor Álbum Música Raiz”, gravou uma música inédita para o espetáculo “Enluarada – Uma Epopeia Sertaneja”.

Outras canções autorais também foram gravadas, como “Andarilho”, composição de Milena Tibúrcio e do letrista Caio Tibúrcio, “Senhora do Destino”, com letra de Caísa e melodia de Fernando César, que assina a direção musical do espetáculo e as músicas instrumentais; e “Enluarada”, letra composta pela atriz e melodia assinada pela musicista Milena Tibúrcio. O repertório inclui, ainda, a canção “Lua Branca”, de Chiquinha Gonzaga, e “Moreninha”, da cultura popular, ambas de domínio público. 

SERVIÇO

Projeto “SerTão a Gosto” com apresentação do espetáculo “Enluarada – Uma Epopeia Sertaneja”

Local: Teatro Sesc Ary Barroso – 504 Sul, Asa Sul, Brasília

Ingressos: podem ser retirados na bilheteria no dia de cada atividade, por ordem de chegada, ou pela Sympla. Toda a programação é gratuita.

Duração: 60 minutos

Classificação indicativa: 14 anos

DATAS

17/10 Sexta-feira

16h30

Mesa Gastronômica com a participação da chef e pesquisadora Aline Chermoula (SP), mediada por Guilherme Lobão

20h

Apresentação do espetáculo “Enluarada – Uma Epopeia Sertaneja”

Acessibilidade: Tradução com intérprete de Libras

18/10 Sábado

20h

Apresentação do espetáculo “Enluarada – Uma Epopeia Sertaneja” 

Acessibilidade: Tradução com intérprete de Libras

19/10 Domingo

16h30

Mesa Gastronômica com a participação da chef e historiadora Márcia Nunes (BH), mediada por Guilherme Lobão

20h

Apresentação do espetáculo “Enluarada – Uma Epopeia Sertaneja”

Tour tátil 30 minutos antes do início da apresentação
Acessibilidade: Audiodescrição ao vivo para pessoas cegas e de baixa visão


20/10 Segunda-feira

16h30

Mesa Gastronômica com a participação da chef Lydia Gonzales (RJ), mediada por Guilherme Lobão

20h

Apresentação do espetáculo “Enluarada – Uma Epopeia Sertaneja” 

Tour tátil 30 minutos antes do início da apresentação
Acessibilidade: Audiodescrição ao vivo para pessoas cegas e de baixa visão

*O projeto irá oferecer transporte gratuito, em parceria com instituições locais. Além disso, o projeto conta com programa em Braille e letra ampliada.

Ficha técnica
Concepção e Atuação: Caísa Tibúrcio

Dramaturgia: Caísa Tibúrcio

Direção Cênica: Denis Camargo

Direção Musical: Fernando César

Orientação teatro de objetos: Sandra Vargas / Grupo Sobrevento

Cenário: Caísa Tibúrcio e Roustang Carrilho

Figurino: Roustang Carrilho

Iluminação: Ana Quintas

Operação de Luz: Lemar Rezende

Design Gráfico: Jana Ferreira

Produção Executiva: Artur Cavalcante

Assistência de Produção: Fábio Jorge

Curadoria e Mediação: Guilherme Lobão                                              

Coordenação Geral: Caísa Tibúrcio

Realização: Casulo Teatro

Audiodescrição e Libras: Vias Acessíveis

Assessoria de Imprensa: Alfarrábios Culturais
Mídias Digitais e Cobertura Web: Estúdio Lunares