A minissérie “Adolescência”, da Netflix, não é apenas um drama psicológico sobre os desafios da juventude. Criada e estrelada por Stephen Graham, a produção traz reflexões profundas sobre a responsabilidade coletiva na formação de crianças e adolescentes. Com temas como masculinidade tóxica, redes sociais e discursos de ódio, a obra questiona: quem deve cuidar dos jovens? Educadores, famílias, governo ou sociedade?

A trama e os dilemas da adolescência

“Adolescência” acompanha Jamie Miller, um garoto de 13 anos acusado de assassinar uma colega de escola. A narrativa não se limita ao crime, mas explora os fatores que levaram ao desfecho trágico. Graham, que interpreta Eddie Miller, pai do protagonista, utiliza a série para lançar luz sobre questões como bullying, isolamento social e a influência das plataformas digitais na vida dos jovens.

Em entrevistas recentes, Graham destacou que a série não busca apontar culpados, mas sim provocar uma discussão sobre os desafios enfrentados pelos adolescentes. “É como dizem: ‘é preciso uma aldeia para criar uma criança’. Quando algo extremo acontece, como o caso de Jamie, não se trata de culpar apenas os pais ou a escola. É um problema de toda a sociedade”, afirmou o ator e cocriador.

O impacto das redes sociais e discursos de ódio

Um dos pontos centrais da série é a influência das redes sociais na formação dos jovens. Jamie, como muitos adolescentes, encontra na internet um espaço de interação, mas também de exposição a discursos misóginos e violentos. Graham revelou que, durante a criação da série, mergulhou em pesquisas sobre a cultura “incel” e a “manosfera”, grupos online que propagam ideias prejudiciais e reforçam o isolamento emocional de jovens do sexo masculino.

“A internet pode ser uma ferramenta incrível, mas também pode ser um lugar perigoso para os jovens. Precisamos regulamentar melhor essas plataformas e educar os adolescentes sobre os riscos”, disse Graham em uma coletiva de imprensa.

Responsabilidade coletiva: o papel de cada um

A série levanta uma questão essencial: quem deve cuidar das crianças e adolescentes? Graham defende que a responsabilidade é compartilhada entre famílias, escolas, governo e sociedade. “Os pais precisam estar presentes, as escolas devem criar ambientes seguros e inclusivos, e o governo deve investir em políticas públicas que promovam saúde mental e educação socioemocional. Mas, acima de tudo, a sociedade como um todo precisa ser mais empática e acolhedora”, afirmou o ator.

Especialistas concordam com Graham. Luciana Claro, psiquiatra do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP, destaca que a prevenção da violência entre jovens exige ações estruturais e específicas. “Educação que promova empatia, regulamentação das redes sociais e maior acesso a serviços de saúde mental são fundamentais. No âmbito familiar, o diálogo aberto e a presença ativa dos responsáveis são indispensáveis”, explicou.

Um convite à reflexão

“Adolescência” não é apenas uma série; é um chamado à ação. Graham e sua equipe criaram uma obra que vai além do entretenimento, provocando debates sobre os desafios da adolescência e o papel de cada indivíduo na formação dos jovens. Com sua abordagem sensível e realista, a minissérie se tornou um marco cultural, destacando a importância da responsabilidade coletiva.