Brasília nasceu como uma utopia urbana. Ao desenhar o Plano Piloto, o urbanista Lúcio Costa idealizou um espaço onde o pedestre teria prioridade, caminhando entre áreas verdes, comércios locais e escolas sem precisar disputar espaço com carros. O projeto, inovador para a década de 1950, seguia uma lógica humanizada: o automóvel seria um complemento, não o protagonista da vida urbana.
Superquadras: O coração da cidade
A base dessa proposta são as superquadras, grandes quarteirões de 280 por 280 metros projetados para oferecer conforto e segurança aos moradores. Diferente de outras metrópoles brasileiras, Brasília priorizou o silêncio e o convívio, separando o trânsito dos espaços de moradia. As vias expressas ficaram na periferia das quadras, permitindo que quem vive ali caminhasse tranquilamente entre praças, bosques e prédios de até seis andares. Para a época, essa era uma revolução no conceito de cidade.
A relação com o automóvel
Apesar da visão progressista, Brasília surgiu em uma época em que o mundo enxergava o carro como símbolo de modernidade. Ainda que a cidade tivesse sido pensada para a circulação a pé, o modelo urbano adotado favoreceu grandes distâncias entre setores, tornando o automóvel essencial para os deslocamentos. A falta de um transporte público eficiente ao longo das décadas reforçou essa dependência, fazendo com que Brasília passasse a ser vista como uma cidade dos carros — algo que contraria sua concepção original.
O crescimento além do Plano Piloto
O plano urbanístico previa uma cidade para 500 mil habitantes, majoritariamente funcionários públicos. No entanto, a realidade social do Brasil fez com que Brasília se tornasse um polo de atração para milhares de pessoas em busca de trabalho e oportunidades. O crescimento acelerado levou à expansão de Regiões Administrativas, muitas vezes sem o mesmo planejamento cuidadoso do Plano Piloto. O resultado foi a ocupação desordenada de áreas periféricas, com infraestrutura precária e maior dependência do transporte motorizado.
Brasília ainda é uma cidade para pedestres?
Apesar das transformações, caminhar por uma superquadra continua sendo uma experiência única. As calçadas amplas, os jardins e os espaços de convivência fazem com que, em determinados pontos, Brasília mantenha vivo o sonho de uma cidade feita para o pedestre. No entanto, desafios como segurança, sombras escassas e conectividade entre quadras dificultam o pleno aproveitamento desse modelo urbanístico.
O futuro da mobilidade em Brasília depende de investimentos em transporte público, requalificação de espaços urbanos e incentivo à caminhada. A cidade nasceu para ser uma referência em qualidade de vida, e resgatar essa essência pode ser a chave para um desenvolvimento mais sustentável e inclusivo.
E para você, Brasília ainda é uma cidade amigável para pedestres?