por Brenda Barros

Hoje, abordarei um tema delicado: relacionamentos abusivos. Recentemente, várias mulheres famosas compartilharam suas experiências para encorajar outras a denunciar qualquer forma de violência. Ana Hickmann e Letícia Birkheuer são exemplos recentes disso.

É intrigante pensar por que mulheres tão bonitas, inteligentes e financeiramente independentes suportam relacionamentos abusivos por tanto tempo. Elas têm todas as opções ao seu alcance, então por que se submeteriam a isso?

Esse assunto vai além do status social, envolve fragilidade emocional, carência afetiva, manipulação e medo de retaliação. Eu também já estive nessa situação. Em 2018, após ser diagnosticada com um câncer raro, conheci alguém que parecia ser o meu apoio. Um homem bonito, forte e mais velho, que prometia cuidar de mim e do meu filho. No entanto, a realidade foi bem diferente…

Admito que me encantei com o cuidado e carinho que ele demonstrava no início, com inúmeras viagens, presentes e promessas. Decidimos nos casar rapidamente, optando por uma cerimônia simples, pois estávamos ansiosos para iniciar nossa vida juntos, escolhendo Milão como nossa nova morada.

Eu estava completamente envolvida com as infinitas oportunidades que ele apresentava naquela capital da moda e encantada com a Europa. Viajamos ao redor do mundo juntos, ele era apaixonado por grandiosidade, e cada viagem nossa era marcada pelo glamour dos hotéis e restaurantes. Eu achava fascinante, já que eu não tinha experiências assim antes. Um exemplo marcante foi em Dubai, onde a temperatura chegava a quase 50 graus Celsius. Lembro-me vividamente dele sugerindo, pouco depois de nos instalarmos no hotel, que partiríamos cedo para Beirute no dia seguinte, pois o clima lá era melhor, e não precisaríamos levar malas, pois compraríamos tudo lá! Ele dizia que depois enviaria alguém para trazer nossas bagagens até Milão. Seguia todas as suas loucuras de olhos fechados, apaixonada e ao mesmo tempo temerosa.

Eu estava vulnerável, passando por um tratamento quimioterápico oral, o que me impedia de consumir álcool, e sempre atenta às instruções dele. Gradualmente, ele começou a tentar mudar meu estilo, minha maneira de ser e até minha autenticidade. Eu já estava sendo vítima de gaslighting de forma sutil, especialmente em relação aos presentes que recebia.

Gaslighting, para quem não sabe, é uma forma de abuso psicológico em que o agressor manipula a percepção da vítima da realidade, fazendo-a duvidar de sua própria sanidade, memória ou percepção. O termo “gaslighting” tem origem no filme “Gaslight” de 1944, no qual o marido tenta convencer sua esposa de que ela está ficando louca ao manipular as luzes em sua casa. No contexto de relacionamentos abusivos, o gaslighting pode ser usado para manter o controle sobre a vítima, minando sua autoconfiança e independência. Pode levar a vítima a questionar sua própria realidade e sentir-se impotente, o que facilita o controle e a manipulação pelo agressor. Isso pode incluir negar eventos que ocorreram, distorcer fatos, minimizar a importância dos sentimentos da vítima e até mesmo culpar a vítima por coisas que não fez.

Por vezes, há a esperança de que o parceiro mude, mas, no meu caso, os sinais de abuso surgiram gradualmente e não os reconheci de imediato. Sentia vergonha de admitir para minha família e amigos que não estava feliz, com receio da desaprovação e medo de não ser amada. Suportei um casamento tumultuado, marcado por episódios de violência doméstica, como grosseria e explosões de raiva. Até que um dia, ele insistiu para que eu assumisse tarefas domésticas, resultando em uma tentativa frustrada na cozinha. Nervosa e com medo de uma possível agressão, me retirei para o banheiro para me recompor, pois situações estressantes desequilibravam meus hormônios e os efeitos colaterais do tratamento surgiam imediatamente.

Quando ele percebeu que eu havia entrado no banheiro, ele trancou a porta e saiu pelas ruas de Milão. Felizmente, meu celular estava dentro e carregando. Foi ali, presa naquele espaço apertado por quase 48 horas, tomando apenas água da torneira, que reconheci os sinais de abuso. Busquei ajuda de amigas e elaborei um plano de fuga. Quando ele voltou, comportou-se como se nada tivesse acontecido, como se tivesse tido um lapso de memória. Assustado ao me ver ali, magra e faminta, sugeri que era hora de ir para São Paulo fazer meu tratamento, e ele concordou, marcando a volta para daqui a 15 dias.

Ao retornar ao Brasil, estava em desespero, trazendo apenas uma mala. Abri meu coração para minha família e busquei ajuda de uma profissional qualificada para me auxiliar a sair dessa situação e reconstruir minha vida com saúde e segurança. Tive a sorte de contar com alguns anjos em minha vida, que me ofereceram apoio, compreensão e recursos, fortalecendo minha autoestima. Graças a Deus e a esses anjos, consegui deixar para trás esse casamento tumultuado e me reerguer.

Parti em um voo, ciente de que não retornaria, sem despedidas, sem nada que pudesse distrair meu foco! Após isso, acabei me envolvendo com mais duas pessoas tóxicas.

Enfim, o que aprendi com tudo isso e quero compartilhar com vocês é que ninguém aqui está sozinha. Existe ajuda disponível para todas nós. Só precisamos ter coragem de falar. Busque o apoio! O abuso nunca é justificável. Acredite em si mesma. Dê-se tempo para se curar e priorize sua segurança! Se seu parceiro tem controle excessivo sobre você, se ele te isola, se ele faz críticas constantes, se ele é possessivo ou ciumento, se ele tem explosões de raiva ou faz chantagens emocionais, CUIDADO! Esses são os sinais que podem ajudá-la a tomar medidas para se proteger.

Lembre-se de que você merece ser amada, respeitada e tratada com dignidade. Não hesite em buscar o apoio necessário para se libertar do ciclo de abusos e começar a jornada em direção a uma vida mais feliz e saudável.