Gestação de jovens está relacionada a desafios socioeconômicos, traz implicações para as novas mães, suas famílias, seus filhos e o sistema de saúde como um todo
A Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência, entre os dias 1º e 8 de fevereiro, está disseminando informações sobre medidas preventivas e educativas que contribuam para a redução da incidência da gravidez na adolescência. A gestação precoce traz implicações para a vida das jovens mães, de suas famílias, para o desenvolvimento dos filhos e o sistema de saúde como um todo.
“Esta semana destaca a importância da educação sexual, acesso a métodos contraceptivos e suporte psicossocial para os adolescentes. Além disso, promove o diálogo aberto entre pais, educadores, profissionais de saúde e os próprios jovens, visando criar um ambiente propício para a compreensão dos riscos associados à gravidez precoce”, destaca a médica de Família e Comunidade, Fabiana Fonseca.
A especialista explica que a gravidez na adolescência está relacionada a desafios socioeconômicos, interrompendo a educação formal das jovens mães e limitando suas oportunidades de carreira. Além disso, as consequências para a saúde tanto da mãe quanto do bebê são mais acentuadas nessa faixa etária. “O Governo do Distrito Federal vem criando políticas públicas voltadas à juventude, investindo em programas educativos, acesso facilitado a métodos contraceptivos e serviços de saúde adequados”, reforça.
O crescimento da gestação na adolescência segue a tendência de aumento que permeia todas as faixas etárias no DF. Dados do InfoSaúde revelam que, em 2023, 2.518 partos realizados na rede pública foram de mães com até 18 anos.
Taxa de mortalidade fetal (óbitos ocorridos após a 22ª semana de gestação), segundo o último levantamento da Codeplan, é superior entre adolescentes se comparado com mães de 20 a 34 anos, sobretudo entre mães de 10 a 14 anos
Apesar de o Distrito Federal ostentar a menor taxa de gestações na adolescência do país em 2023, com 7,9% de jovens grávidas até 18 anos, a Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) tem se empenhado ativamente na redução desses números. O esforço é direcionado de maneira focalizada, levando em consideração as disparidades entre as regiões de saúde da capital. Enquanto algumas áreas, como regiões Sudoeste e Lago Sul, registram incidências inferiores a 1%; outras, a exemplo de Estrutural e Itapoã, aproximam-se dos 17%.
Segundo o último levantamento da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), a taxa de mortalidade fetal (óbitos ocorridos após a 22ª semana de gestação) é superior entre adolescentes se comparado com mães de 20 a 34 anos, sobretudo entre mães de 10 a 14 anos.
Essas discrepâncias são meticulosamente consideradas no planejamento das ações, com o objetivo de canalizar esforços adicionais para onde a demanda é mais premente. A gravidez na adolescência está intimamente ligada à carência de informação sobre saúde sexual e reprodutiva. Portanto, intervenções educativas são implementadas diretamente nas unidades de saúde e em parcerias estratégicas, como o Programa Saúde na Escola, em colaboração com a Secretaria de Educação.
Impactos sociais, emocionais e econômicos
A Secretaria de Saúde enfatiza o enfrentamento das repercussões da gravidez na adolescência, que podem abranger aspectos físicos, emocionais, socioeconômicos e educacionais. A situação torna-se ainda mais complexa quando a gestação é resultado de violência ou quando a gestante é menor de 14 anos, configurando um caso de estupro de vulnerável. Nesses casos, o acolhimento psicológico é essencial.
No intuito de prevenir e orientar, a SES-DF disponibiliza instruções sobre saúde sexual e reprodutiva nas unidades básicas de saúde (UBSs). Além disso, oferece gratuitamente diversos métodos contraceptivos, como camisinhas masculinas e femininas, anticoncepcionais orais (pílulas) e injetáveis, além do dispositivo intrauterino (DIU). Importante destacar que as adolescentes podem buscar atendimento nessas unidades a partir dos 12 anos de idade, sem a necessidade de acompanhamento por um responsável.
Adolescentro
O Adolescentro atende usuários de 12 até 17 anos com transtornos mentais moderados ou uso eventual de substâncias psicoativas – atendimento não intensivo e casos de gravidez. Os atendimentos são controlados pelo Complexo Regulador do DF, por meio de solicitação das UBSs e outros serviços de saúde.
A gerente substituta do Adolescentro, Marineide Costa, destaca que as ações de prevenção à gravidez na adolescência são de suma importância. “A gestação nessa fase eleva a prevalência de complicações maternas, fetais e neonatais, além de agravar problemas sociais e econômicos. Diante disso, é importante o desenvolvimento de ações como educação sexual, para trabalhar as questões como gravidez, comportamento sexual responsável, prevenção de infecções sexualmente transmissíveis, violência sexual e outras violências”, aponta.
No decorrer dos atendimentos, de acordo com a necessidade de cada indivíduo, são feitos avaliação e encaminhamento para trabalhar as questões de prevenção. Ao ser detectada vulnerabilidade ou demanda espontânea, é marcada consulta com ginecologista para avaliação puberal, orientação e prescrição de métodos contraceptivos.
O Adolescentro conta com um programa de atendimento às vítimas de violência, o Cepav Caliandra. Ele compõe as “flores em rede” de atendimento às vítimas de violência no DF. Atualmente, no Cepav Caliandra as adolescentes recebem tratamento psicossocial com equipe multidisciplinar. O foco do tratamento é a elaboração do trauma vivido para a redução do sofrimento. Os temas trabalhados envolvem a avaliação e mudanças no relacionamento familiar, ativação da rede de proteção, desenvolvimento de estratégias de proteção e prevenção de novas violências, engajamento para planos futuros.
A equipe trabalha conjuntamente com os ginecologistas, para orientação, e o serviço social, para o levantamento das vulnerabilidade s sociais e a ativação da rede de apoio institucional.
*Com informações da SES-DF
Agência Brasília* | Edição: Saulo Moreno