Às vezes, me pego sonhando com um mundo onde não sou mais chamada de forte. Não que eu não valorize essa virtude, mas essa etiqueta muitas vezes esconde minha necessidade básica de apoio e compreensão. Como mãe solo, cada dia é uma batalha, uma prova de resistência que não pedi para enfrentar, mas que abracei com todas as minhas forças pelo bem do meu filho Joaquim.

Sempre acreditei que um lar repleto de amor é suficiente, que a presença materna forte e reconfortante pode compensar a ausência paterna. Mas aprendi que criar um filho sozinha não é apenas uma escolha, mas uma jornada de amor incondicional e resiliência.

A maternidade solo traz uma gama de desafios e dilemas complexos, e um dos mais angustiantes é explicar para um filho a ausência do pai, enquanto seu coração inocente ainda nutre um amor platônico por ele. Toda mãe se esforça para proteger seu filho da dor da rejeição, buscando assegurar que eles não têm culpa de nada, que são especiais e amados. No entanto, surge a questão: o que fazer quando um filho anseia pela presença do pai e é difícil atender a esse pedido sem encontrar uma solução?

Seria ético buscar na justiça o direito de um filho conviver com seu pai? Após uma década de espera por uma iniciativa paterna, frequentemente justificada pela falta de recursos financeiros, percebo que essa medida é vital para garantir o bem-estar emocional do meu filho. Embora como mãe essa decisão me cause dor, vejo como minha responsabilidade assegurar que meu filho tenha a chance de construir uma relação saudável com seu pai, mesmo que este pareça acreditar que a interação virtual pelo FaceTime é suficiente para substituir sua presença física.

Em meio a uma sociedade machista e hipócrita, os desafios se intensificam. Optar por não buscar essa convivência muitas vezes resulta em acusações de alienação parental. Porém, o que fazer diante dessa difícil situação? Meu filho teve apenas quatro encontros com o pai ao longo da vida, e já se passaram três anos desde o último. Reconheço que este é um dilema angustiante que muitas mães solo enfrentam diariamente.

Após uma pesquisa aprofundada, percebi que a situação vai além do que imaginava. O que enfrentamos é rotulado como abandono afetivo, podendo resultar em indenização por danos morais ao filho e até em multa por descumprimento do dever de visitação. Os efeitos devastadores de ser um pai ausente na vida de um filho são imensuráveis, especialmente quando se trata de danos psicológicos, algo que testemunhei em primeira mão quando fui chamada à escola devido às dificuldades de interação social de meu filho.

Embora a ação judicial não possa reparar completamente o dano emocional, ao menos serve para responsabilizar um genitor irresponsável que negligencia suas obrigações parentais. Quando uma sentença judicial determina certas ações, como garantir a convivência responsável com filhos menores, essa ordem é uma exigência legal, não uma sugestão. O descumprimento dessas ordens pode prejudicar não apenas a relação entre os envolvidos, mas também, e mais importante, o bem-estar das crianças. Por isso, o sistema jurídico dispõe de mecanismos para garantir o cumprimento das sentenças, incluindo a imposição de multas, conhecidas como astreintes, que incentivam a parte inadimplente a cumprir a determinação judicial de forma voluntária, evitando intervenções judiciais mais severas.

Entretanto, a busca pela justiça é uma batalha árdua. O caminho através do sistema judicial é cansativo e muitas vezes traumatizante, uma luta que só empreendemos quando todas as outras opções se esgotaram.

Agora me pergunto: se ele não demonstra interesse em ver ou conviver com o próprio filho, talvez seja melhor deixá-lo. Arriscar a saúde e o bem-estar de Joaquim em uma relação forçada não parece valer a pena. O amor verdadeiro não pode ser imposto; ele surge de forma espontânea. Estarei realmente fazendo o melhor para meu filho? Essa dúvida persiste, angustiante.

Mas, mesmo diante de todas as dificuldades, continuo firme na busca por justiça e proteção para Joaquim. Porque, no final do dia, não se trata apenas de mim, mas do futuro e do bem-estar do meu filho. E por ele, enfrentarei qualquer desafio, lutarei qualquer batalha e farei qualquer sacrifício necessário, pois esse é o verdadeiro poder da maternidade: um amor inabalável e uma determinação inquebrável para garantir o melhor para nossos filhos, não importa o que aconteça.