O palco do Espaço Cultural Renato Russo foi o cenário para a estreia de uma produção teatral inovadora e educativa, ‘O Minotauro’. Em uma adaptação que mescla a tradição literária com uma abordagem contemporânea e antirracista, a peça, inspirada na obra de Monteiro Lobato, trouxe uma nova perspectiva ao clássico da literatura infantil.

Na tarde desta sexta-feira, 6 de setembro, cerca de 100 alunos do Centro de Ensino Fundamental Doutora Zilda Arns, no Itapoã, foram os primeiros a testemunhar a estreia do espetáculo, que permanecerá em cartaz até domingo, 8 de setembro. A plateia jovem, composta por crianças de 10 a 16 anos, ficou imersa em uma narrativa que une o universo grego ao universo do Sítio do Picapau Amarelo, através de elementos cênicos e musicais que enriquecem a experiência teatral.

A professora e supervisora pedagógica Renata Turbay Freiria, de 39 anos, destacou a importância da iniciativa, especialmente para jovens que, muitas vezes, não têm acesso a eventos culturais. “Embora eu seja professora de exatas, acredito firmemente que a arte é uma parte essencial da educação. Em nossa comunidade, onde as opções culturais são limitadas, a escola assume o papel de levar nossos alunos a novas experiências e horizontes”, afirma.

O projeto, dirigido e idealizado por Márcio Menezes, busca recontextualizar a obra de Monteiro Lobato, que entrou em domínio público em 2019. Menezes observou que, apesar de Tia Nastácia ser uma personagem central, sua presença na obra original era limitada. “Isso revelou uma invisibilidade histórica da mulher negra e me inspirou a dar a Nastácia um papel de destaque nesta nova versão”, explica o diretor.

O jovem Vitor Ximenes, de 15 anos, expressou sua satisfação com a experiência, ressaltando como o espetáculo integra disciplinas escolares como artes e ciências, além de abordar questões sociais relevantes como o racismo. “É como se saíssemos das quatro paredes da sala de aula e mergulhássemos em um mundo mais amplo e envolvente”, comenta.

Hevelyn Victória, de 12 anos, destacou o empoderamento das personagens Narizinho e Tia Nastácia, ambas interpretadas por atrizes negras. “A peça é fantástica e aborda temas importantes como o racismo. É empolgante ver Tia Nastácia ganhando destaque e autonomia”, disse a estudante.

O diretor Márcio Menezes também se mostrou satisfeito com o resultado, especialmente com a recepção positiva do público jovem. “Embora a adaptação tenha sido um desafio devido à densidade textual da obra original, é gratificante ver que os adolescentes estão engajados e conectados com a história”, celebra.

Além das apresentações regulares, a programação inclui sessões inclusivas com interpretação em Libras e audiodescrição, com ingressos gratu itos distribuídos uma hora antes de cada sessão. No domingo, uma sessão especial para pessoas com autismo será oferecida, com ajustes no ambiente para garantir conforto e acessibilidade.

O intérprete de Libras Thiago Tomé, de 25 anos, destaca a importância da acessibilidade em eventos culturais. “A inclusão de Libras em produções teatrais é fundamental e pode estimular o interesse de mais pessoas em aprender a Língua de Sinais, promovendo uma sociedade mais comunicativa e acessível”, conclui Tomé.

O espetáculo ‘O Minotauro’ representa uma fusão enriquecedora de educação e entretenimento, proporcionando uma reflexão crítica sobre questões sociais enquanto oferece uma experiência cultural imersiva e inclusiva.