Por Imprensa Brasília

Às margens da L4 Norte, entre o Centro Olímpico da Universidade de Brasília e o Lago Paranoá, repousa um dos maiores símbolos do abandono urbano da capital federal: as chamadas “Ruínas da UnB”. Apesar do nome popular, o esqueleto de concreto não pertence à universidade. O que se vê ali são os restos de um projeto ambicioso da década de 1970 que jamais foi concluído — e que há quase 50 anos serve como lembrete silencioso de má gestão, desperdício de recursos públicos e descaso com o patrimônio urbano.

Um projeto que nunca saiu do papel

A construção teve início em 1973, com o objetivo de abrigar a nova sede da Escola Superior de Guerra (ESG), que seria transferida do Rio de Janeiro para Brasília. O projeto, assinado pelo renomado arquiteto Sérgio Bernardes, previa um complexo moderno, com salas de aula, auditórios e áreas de convivência, em diálogo com o campus da UnB e a paisagem do Lago Paranoá.

No entanto, em 1975, a obra foi oficialmente interrompida devido à crise do petróleo e às restrições orçamentárias impostas pelo governo militar. Desde então, o que restou foi um conjunto de estruturas inacabadas, com ferragens expostas, infiltrações, pichações e lixo acumulado.

Risco urbano e insegurança

Com o passar das décadas, o local se tornou ponto de ocupações irregulares, uso de drogas, focos de dengue e insegurança para moradores e estudantes da região. A ausência de cercamento e a falta de fiscalização transformaram o espaço em um território de risco. Moradores do Setor de Mansões Isoladas Norte relatam medo de circular pela área à noite e cobram providências do poder público.

Potencial ignorado

Apesar do estado de abandono, especialistas apontam que a estrutura ainda pode ser reaproveitada. O professor de engenharia da UnB, Dickran Berberian, afirma que, embora haja corrosão e infiltrações, as vigas principais permanecem estáveis e poderiam ser integradas a um novo projeto urbano, desde que haja limpeza, drenagem e reforço estrutural.

Desde 2018, há uma proposta para transformar o local no Parque Ecológico da Enseada Norte, com foco em recuperação ambiental e uso público. No entanto, o projeto segue no papel, à espera da elaboração do plano de manejo e da articulação entre órgãos do GDF e do Instituto Brasília Ambiental (Ibram).

Um monumento à omissão

As “Ruínas da UnB” são mais do que um esqueleto de concreto: são um monumento à omissão institucional, à falta de continuidade administrativa e à desconexão entre planejamento e execução. Em uma cidade que se orgulha de sua arquitetura e urbanismo, manter um espaço como esse em ruínas por meio século é, no mínimo, um paradoxo.

Enquanto o tempo corrói o concreto e a vegetação toma conta do que um dia foi um sonho de integração entre defesa e educação, a pergunta que fica é: até quando Brasília vai conviver com esse símbolo de desperdício à beira do lago?