Por Redação Imprensa Brasília
No coração monumental de Brasília, entre a geometria da Esplanada dos Ministérios e o céu vasto do Planalto Central, ergue-se uma das mais notáveis criações da arquitetura moderna brasileira: a Catedral Metropolitana Nossa Senhora Aparecida. Mais do que um templo religioso, o projeto assinado por Oscar Niemeyer é uma obra de arte em escala monumental — e guarda um segredo que surpreende até mesmo os visitantes mais atentos.

Inaugurada em 31 de maio de 1970, a catedral é famosa por sua estrutura arrojada, composta por 16 colunas de concreto que se curvam em direção ao céu, como mãos entrelaçadas em oração. Mas além de sua beleza escultural, há um detalhe pouco conhecido que intriga os curiosos e encanta os amantes da arquitetura: um fenômeno acústico único.
Um “sussurro” de ponta a ponta

Dentro da nave circular da catedral, existe um efeito acústico fascinante: se duas pessoas se posicionarem em lados opostos da parede curva, podem conversar em voz baixa e ainda assim se escutarem com clareza, mesmo à distância. É como se suas vozes fossem conduzidas por um túnel invisível.
O que acontece ali é fruto da forma parabólica da construção, que canaliza o som pelas paredes, funcionando como um condutor natural. Como as superfícies internas não possuem tratamento acústico tradicional — como isolamento ou revestimento que absorva o som —, as ondas sonoras reverberam de maneira incomum, criando uma espécie de “eco inteligente” que favorece o fenômeno.
Esse detalhe, não planejado como atração, acabou se tornando um dos encantos ocultos da catedral, muitas vezes revelado por guias turísticos ou por visitantes que decidem testar a acústica por pura curiosidade.
Luz, cor e espiritualidade

Se a acústica surpreende, a experiência visual emociona. A luz natural entra através dos vitrais coloridos da artista Marianne Peretti, criando um espetáculo de cores em movimento ao longo do dia. Com tons em azul, verde e marrom, os vitrais não apenas embelezam o interior, mas reforçam a espiritualidade do ambiente, onde o silêncio e a luz caminham lado a lado.
Além disso, os anjos suspensos no centro da nave — esculpidos por Alfredo Ceschiatti e Dante Croce — flutuam sobre os fiéis, reforçando o clima celestial que Niemeyer idealizou para o espaço. Para ele, arquitetura era mais do que técnica: era emoção.
Muito além da religião: símbolo de arte e identidade brasileira

A Catedral de Brasília não é apenas um marco católico. Ela representa a fusão entre fé, arte e engenharia, e é também uma das construções responsáveis pelo reconhecimento de Brasília como Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO.
Projetada ainda na década de 1950 e entregue ao público já na década seguinte, a catedral rendeu a Oscar Niemeyer inúmeros prêmios internacionais, incluindo o prestigiado Prêmio Pritzker, considerado o “Nobel” da arquitetura.
Um convite à descoberta

Para quem vive na capital ou está apenas de passagem, a visita à Catedral é uma chance de ir além da fotografia tradicional. É possível admirar a obra como um monumento estético, explorar seus fenômenos físicos e artísticos, e ainda encontrar instantes de silêncio e contemplação no meio da pulsante Brasília.
E da próxima vez que estiver lá, não hesite em fazer o teste: encontre alguém, posicione-se do outro lado da cúpula — e descubra como o sussurro de uma oração pode atravessar o templo como mágica. Ou melhor, como arquitetura pura.