Uma nova pesquisa revelou um dado alarmante: cerca de 40% das pessoas que convivem com dor crônica também enfrentam transtornos como depressão ou ansiedade. O estudo, conduzido pela Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins e publicado no periódico JAMA, analisou dados de mais de 347 mil pacientes em 50 países, destacando a relação entre dor persistente e saúde mental.

A dor crônica, definida como aquela que persiste por mais de três meses, afeta aproximadamente 21% da população adulta mundial. Entre as condições mais associadas a esse quadro estão fibromialgia, osteoartrite, câncer e outras doenças incapacitantes. O impacto vai além do físico: os transtornos mentais decorrentes da dor prolongada comprometem significativamente a qualidade de vida dos pacientes.

Jovens e mulheres são os mais afetados

O estudo apontou que a prevalência de depressão e ansiedade é maior entre jovens e mulheres, grupos que já são mais vulneráveis a esses transtornos. Em casos de fibromialgia, por exemplo, os índices são ainda mais elevados: 54% dos pacientes apresentam depressão, enquanto 55,5% sofrem de ansiedade. A ausência de lesões visíveis nos tecidos, característica dessa condição, agrava o impacto emocional, gerando sentimentos de frustração e isolamento.

O ciclo entre dor e saúde mental

Especialistas explicam que a relação entre dor crônica e transtornos mentais é bidirecional. A dor prolongada pode desencadear sintomas de depressão e ansiedade, enquanto esses transtornos, quando não tratados, intensificam a percepção da dor. “A depressão ou ansiedade não tratada afeta a adesão ao tratamento, diminui a qualidade de vida e pode levar ao abandono do acompanhamento médico”, alerta o psiquiatra Elton Kanomata, do Hospital Israelita Albert Einstein.

A importância do tratamento multidisciplinar

Para enfrentar esse desafio, o tratamento multidisciplinar tem se mostrado essencial. Médicos, psicólogos, fisioterapeutas e psiquiatras devem trabalhar em conjunto para abordar tanto os aspectos físicos quanto emocionais da dor crônica. Estratégias como terapia cognitivo-comportamental, medicação adequada e práticas integrativas, como yoga e meditação, podem ajudar a reduzir os sintomas e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.

Além disso, a conscientização sobre a relação entre dor crônica e saúde mental é fundamental para que os profissionais de saúde identifiquem precocemente os sinais de depressão e ansiedade. “Hoje, estamos mais atentos a esses riscos e buscamos integrar o cuidado emocional ao tratamento da dor”, afirma Kanomata.

Um alerta para a sociedade

Os dados apresentados pela pesquisa reforçam a necessidade de um olhar mais amplo sobre a dor crônica, que vai além do sofrimento físico. Investir em políticas públicas que promovam o acesso a tratamentos multidisciplinares e a educação sobre saúde mental é crucial para melhorar a vida de milhões de pessoas ao redor do mundo.

A dor crônica não é apenas uma condição física; é um desafio que exige empatia, compreensão e uma abordagem integrada. Com o avanço das pesquisas e o fortalecimento de redes de apoio, é possível oferecer esperança e alívio a quem enfrenta essa realidade diariamente.