Um novo estudo publicado recentemente na revista científica Allergy trouxe um dado promissor para a saúde infantil: gestantes que consomem regularmente abacate durante a gravidez têm até 44% menos chances de terem filhos com alergias alimentares nos primeiros anos de vida. O achado reforça a importância da alimentação materna como um dos principais fatores na formação do sistema imunológico dos bebês.

Conduzida por uma equipe internacional de pesquisadores da Universidade de Melbourne, na Austrália, em parceria com o Instituto Karolinska, na Suécia, a pesquisa acompanhou 3.950 mulheres grávidas e seus filhos por um período de até cinco anos após o nascimento. A investigação analisou os hábitos alimentares das gestantes, com foco especial em alimentos ricos em gorduras monoinsaturadas e compostos bioativos — e o abacate foi o destaque entre eles.

Gorduras boas e imunidade precoce

O abacate é uma das fontes mais ricas de ácido oleico, uma gordura monoinsaturada conhecida por seus efeitos anti-inflamatórios e por auxiliar na saúde cardiovascular. Além disso, a fruta também contém folato, vitamina E e antioxidantes que favorecem o desenvolvimento fetal, inclusive do sistema imune.

Segundo a Dra. Laura Håkansson, imunologista sueca e uma das autoras do estudo, “o consumo frequente de abacate, especialmente no segundo e terceiro trimestres da gravidez, parece ter um papel na regulação epigenética de genes associados a respostas alérgicas”. Em outras palavras, os nutrientes do abacate ajudam a “programar” o sistema imunológico do bebê, tornando-o mais tolerante a proteínas de alimentos comuns como leite, ovos e nozes.

Impactos práticos e orientações nutricionais

Para a nutricionista brasileira Renata Zanetti, especialista em nutrição materno-infantil, os resultados da pesquisa reforçam a importância de uma dieta balanceada durante a gestação. “Muitas mulheres têm medo de consumir gorduras, mas o abacate é uma excelente opção. Ele não só contribui para a saciedade e o controle glicêmico, como também oferece benefícios imunológicos ao bebê”, afirma.

Zanetti recomenda incluir cerca de 1/3 de um abacate médio ao dia, em preparações como vitaminas, saladas ou até puro, com limão. Porém, ela alerta: “O consumo deve estar inserido em um plano alimentar variado, rico em frutas, vegetais, proteínas e cereais integrais”.

Prevenção de alergias: multifatorial, mas com caminho claro

A incidência de alergias alimentares infantis vem aumentando em diversas partes do mundo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 8% das crianças desenvolvem algum tipo de alergia alimentar até os cinco anos. As causas envolvem predisposição genética, fatores ambientais e, como agora se sabe com mais precisão, o padrão alimentar materno durante a gestação.

Embora o estudo não sugira que o abacate seja uma “cura” ou garantia contra alergias, ele aponta um caminho promissor. “Este é um exemplo claro de como escolhas simples durante a gestação podem ter reflexos profundos na saúde das próximas gerações”, conclui a Dra. Håkansson.