Um estudo recente conduzido pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) revelou um dado alarmante: quase metade dos casos de gravidez ectópica em países de baixa e média renda resultam em complicações graves. A pesquisa, publicada no periódico BMJ Open, analisou dados de 24.424 mulheres de 17 países da América Latina, Caribe e África, destacando a disparidade no diagnóstico e tratamento dessa condição em comparação com países desenvolvidos.
A gravidez ectópica ocorre quando o óvulo fecundado se implanta fora do útero, geralmente nas tubas uterinas. Essa condição é uma das principais causas de hemorragia no primeiro trimestre da gestação e pode levar a complicações graves, como ruptura tubária e hemorragia interna, colocando a vida da mulher em risco.
O estudo da Unicamp revelou que 49,8% das mulheres em países de baixa e média renda chegam aos serviços de saúde já apresentando complicações graves. Além disso, 87,2% dessas pacientes necessitam de intervenções cirúrgicas abertas, como a laparotomia, um procedimento mais invasivo e com maior tempo de recuperação. Em contraste, em países desenvolvidos, o diagnóstico precoce permite tratamentos menos invasivos, como a laparoscopia ou terapia medicamentosa.
A ginecologista Renata Bonaccorso Lamego, do Hospital Israelita Albert Einstein, explica que o diagnóstico precoce é essencial para evitar complicações. “O acesso ao ultrassom transvaginal no início da gestação, especialmente diante de sintomas como dor ou sangramento, pode evitar situações críticas. Quando diagnosticada precocemente, a gravidez ectópica pode ser tratada com medicação ou cirurgia eletiva, reduzindo os riscos”, afirma.
Entre os fatores que aumentam o risco de gravidez ectópica estão:
- Doença inflamatória pélvica (DIP): Infecção sexualmente transmissível que pode causar aderências nas tubas uterinas.
- Tabagismo: Afeta a motilidade das tubas uterinas, dificultando o transporte do óvulo.
- Histórico de gravidez ectópica: Mulheres que já enfrentaram essa condição têm maior probabilidade de recorrência.
A prevenção passa por medidas como o uso de preservativos para evitar infecções sexualmente transmissíveis e a cessação do tabagismo. Além disso, o acesso a serviços de saúde de qualidade e a realização de exames de imagem são fundamentais para o diagnóstico precoce.
A falta de infraestrutura e acesso a serviços de saúde é um dos principais desafios enfrentados por mulheres em países de baixa e média renda. Muitas vezes, o diagnóstico só é feito quando a paciente chega ao pronto-atendimento em estado crítico, com choque hemorrágico. “A demora no diagnóstico ocorre porque essas mulheres enfrentam barreiras para realizar exames como o ultrassom transvaginal, que é essencial para identificar a gravidez ectópica”, destaca o professor Luiz Francisco Cintra Baccaro, da Unicamp.
O estudo reforça a necessidade de investimentos em saúde pública, especialmente em serviços de diagnóstico e acompanhamento pré-natal. A ampliação do acesso a exames de imagem e a capacitação de profissionais de saúde para identificar precocemente os sinais de gravidez ectópica são passos essenciais para reduzir as complicações e salvar vidas.
A gravidez ectópica é uma condição que pode ser tratada de forma eficaz quando diagnosticada precocemente. No entanto, em países de baixa e média renda, a falta de acesso a serviços de saúde e diagnóstico por imagem resulta em complicações graves para quase metade das pacientes. O estudo da Unicamp destaca a urgência de ações para melhorar o acesso à saúde e garantir que todas as mulheres tenham a chance de um tratamento adequado e menos invasivo.
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