O avanço das pesquisas em saúde tem mostrado que a prevenção e o cuidado com as demências vão muito além do uso de medicamentos. Estilo de vida, propósito de vida e prática regular de exercícios físicos, especialmente os fisioterapêuticos, têm se revelado aliados poderosos na preservação da memória, da autonomia e da qualidade de vida.

A fisioterapeuta Kaciele Macedo de Souza explica que a atividade física é um dos pilares na proteção contra as demências, mas precisa estar associada a outros fatores de saúde.

“A prática da atividade física é um grande aliado contra as demências, relacionado com outros fatores: alimentação saudável, peso adequado, evitar o uso de cigarros, manter uma pressão arterial segura, controlar o colesterol e ter baixo nível de açúcar no sangue”, afirma.

Segundo a especialista, a fisioterapia tem um papel fundamental porque vai além da simples recomendação de exercícios. O fisioterapeuta investiga as demandas de cada pessoa e monta um plano terapêutico individualizado, respeitando limitações, histórico clínico e objetivos pessoais. Esse acompanhamento é essencial tanto na prevenção quanto no tratamento.

Quando a demência já está instalada, a fisioterapia se torna ainda mais necessária. Os exercícios terapêuticos ajudam a frear o avanço da doença, estimulando funções motoras e cognitivas, preservando a independência e fortalecendo a autoestima. Movimentos simples, como exercícios de equilíbrio, coordenação e alongamento, podem reduzir o risco de quedas, melhorar a circulação e manter a mobilidade. Além disso, atividades que envolvem ritmo, música ou interação social estimulam o cérebro e reforçam conexões neurais.

Outro aspecto importante é o propósito de vida. Estudos mostram que pessoas engajadas em atividades significativas, seja no convívio social, em hobbies ou em práticas culturais, apresentam menor risco de desenvolver demências. O movimento, quando associado a um sentido maior, deixa de ser apenas exercício físico e se transforma em ferramenta de bem-estar integral.

O foco vai além da reabilitação física: a fisioterapia é reconhecida como uma aliada essencial na prevenção das demências — entre elas, o Alzheimer, responsável por mais da metade dos casos registrados no país. Estima-se que cerca de 1,7 milhão de brasileiros vivam hoje com algum tipo de demência, número que tende a crescer com o envelhecimento populacional.

Para a fisioterapeuta e pesquisadora Cristina Cristovão Ribeiro, doutora em Gerontologia pela Unicamp, a prática regular de exercícios fisioterapêuticos melhora o fluxo sanguíneo cerebral, aumenta a oxigenação do sistema nervoso central e estimula a neuroplasticidade — a capacidade do cérebro de criar novas conexões.

“Esses exercícios ajudam a manter o cérebro saudável, favorecendo funções como memória, atenção e concentração”, explica. Entre as técnicas utilizadas, ela destaca os exercícios de dupla tarefa, que combinam movimentos motores e desafios cognitivos, fortalecendo corpo e mente ao mesmo tempo.

Em pessoas que já convivem com demência, a fisioterapia atua para retardar a progressão da doença e adiar o surgimento de novos sintomas. Sessões regulares de fortalecimento, alongamento e equilíbrio reduzem o risco de quedas — um dos maiores perigos para idosos com declínio cognitivo — e ajudam a preservar a autonomia nas atividades diárias. Exercícios resistidos, alongamentos e treinos de equilíbrio estão entre os mais eficazes, enquanto a hidroterapia se mostra uma alternativa segura para quem sofre com dores articulares.

Cristina Ribeiro enfatiza que o ideal é iniciar a fisioterapia preventiva a partir dos 40 anos. “Dos 17 fatores de risco para as demências identificados pela ciência, 14 são modificáveis e dependem do estilo de vida”, afirma. Isso significa que cuidar da saúde física e mental com antecedência é um investimento direto em qualidade de vida no futuro.

Mais do que prolongar o tempo de vida, especialistas destacam que o grande desafio contemporâneo é acrescentar vida aos anos. Nesse processo, corpo e mente caminham lado a lado: a fisioterapia garante movimento, equilíbrio e funcionalidade, enquanto o propósito de vida alimenta a motivação e o engajamento pessoal. Esses dois pilares, corpo ativo e mente com propósito, são indispensáveis para que o envelhecimento seja não apenas mais longo, mas também mais saudável e pleno de significado.