Minas Gerais – Setembro de 2025. Com a chegada de setembro, mês mundial de conscientização sobre a Doença de Alzheimer — atualmente a sétima principal causa de morte no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) —, um novo avanço no tratamento da doença acende uma luz de esperança para pacientes, famílias e profissionais de saúde. Recentemente, a Anvisa aprovou o donanemabe, primeiro medicamento no Brasil com potencial para modificar a progressão da doença, especialmente em estágios iniciais. 

Atualmente, o Alzheimer e outras demências afetam cerca de 55 milhões de pessoas no mundo, número que pode ultrapassar 150 milhões até 2050. No Brasil, 1,2 milhão de pessoas convivem com algum tipo de demência, sendo o Alzheimer responsável por até 60% desses casos. Estima-se que 8,5% da população idosa brasileira já seja afetada pela doença, e as projeções apontam para mais de 5,7 milhões de casos até 2050.

O neurologista da Afya Educação Médica de Belo Horizonte, Dr Drusus Pérez Marques, explica que os primeiros sinais da Doença de Alzheimer geralmente envolvem esquecimentos ligados a fatos recentes, como compromissos do dia, conversas ou tarefas simples e que a memória mais antiga, como lembranças da juventude, costuma permanecer preservada no início. 

“É comum, ainda, certa desorientação em relação ao tempo e ao espaço, ou a repetição de histórias em um curto intervalo. A história familiar também tem um peso importante, já que fatores genéticos podem influenciar o risco, principalmente em casos em que há parentes de primeiro grau com a doença. Além disso, condições como hipertensão, diabetes, colesterol alto, sedentarismo, tabagismo e consumo excessivo de álcool também estão associadas a um risco maior de desenvolvimento da condição”, detalha o médico. 

Para o neurologista da Afya, um dos maiores desafios no enfrentamento do  Alzheimer é o diagnóstico precoce. A falta de informação sobre os sintomas iniciais,  muitas vezes confundidos com sinais naturais do envelhecimento, retarda a busca por atendimento médico e dificulta o início precoce de intervenções que poderiam preservar a autonomia e a qualidade de vida do paciente.

“Normalmente os primeiros sinais, como esquecimentos leves e lentidão no raciocínio, são vistos como parte normal do envelhecimento. Mas, ao contrário das mudanças cognitivas esperadas com a idade, no Alzheimer esses sintomas evoluem e começam a interferir na rotina, comprometendo a capacidade da pessoa de manter sua independência. Quando isso acontece, estamos diante de um quadro de demência, sendo o Alzheimer a causa mais frequente”, explica.

Avanço no tratamento

O Alzheimer é a forma mais comum de demência no mundo, respondendo por cerca de 60% a 80% dos casos. Recentemente, a Anvisa aprovou um novo medicamento para o tratamento do Alzheimer: o donanemabe. A autorização foi baseada em um estudo clínico envolvendo 1.736 pacientes  em estágio inicial, incluindo casos de comprometimento cognitivo leve e demência leve, todos com evidência de acúmulo de proteína beta-amiloide, característica da doença.

Durante a pesquisa, os participantes receberam 700 mg de donanemabe a cada quatro semanas nas três primeiras doses, seguidos por 1.400 mg mensais (em 860 pacientes) ou placebo (em 876 pacientes), por um período de até 72 semanas. O estudo avaliou as mudanças na cognição e na funcionalidade dos pacientes ao longo do tratamento, oferecendo novos dados promissores no enfrentamento da doença. 

Segundo o professor de neurologia, pela primeira vez, temos medicamentos que não apenas aliviam os sintomas, como era feito até então, mas que demonstram potencial para alterar a progressão da doença.“Infelizmente os medicamentos ainda não estão disponíveis no Brasil, eles atuam melhor em fases pré-clínicas ou em estágios muito leves da doença, como o comprometimento cognitivo leve. Para isso, contamos com exames mais avançados, como a análise do líquor e exames de imagem com PET scan que detectam o acúmulo da proteína beta-amiloide, uma das características da doença. Com esses métodos, conseguimos identificar pacientes que podem se beneficiar da medicação antes que os sintomas se agravem.”

O médico da Afya BH conclui que apesar de esses medicamentos representarem uma conquista após mais de 30 anos de pesquisa, os benefícios clínicos ainda são modestos. Eles não curam a doença, mas podem desacelerar sua progressão. Por isso, é fundamental que as famílias e os profissionais de saúde discutam com clareza os prós e contras antes de iniciar o tratamento. A decisão deve ser individualizada, considerando o estágio da doença, a expectativa de resposta e os recursos disponíveis.