Nos últimos meses, a chamada “terapia da rejeição” ganhou popularidade nas redes sociais, especialmente no TikTok, com centenas de jovens compartilhando suas experiências. A prática consiste em se expor a situações desconfortáveis ou vergonhosas, que muito provavelmente resultarão em rejeição, como pedir dinheiro emprestado a um estranho na rua ou pedir um abraço em meio à multidão. A ideia é que, ao enfrentar essas situações de forma controlada, o indivíduo se torne mais resiliente e confiante para lidar com o fracasso ou a falta de aceitação.

No entanto, especialistas alertam que a técnica não tem embasamento científico e pode, na verdade, agravar problemas de saúde mental. Segundo a psicóloga Stéphany Costa, a “terapia da rejeição” pode piorar quadros de ansiedade em indivíduos predispostos. “A ideia de se expor a contextos muito bizarros não faz sentido. Teria algum sentido se a pessoa se expusesse a situações do seu cotidiano para desenvolver habilidades sociais e socioemocionais para a vida. Mas passar vergonha por passar é um desgaste emocional desnecessário e não traz nenhum ganho”, observa Costa.

A “terapia da rejeição” é frequentemente confundida com a “terapia de exposição”, uma técnica consagrada e amplamente utilizada por psicólogos como parte da terapia cognitivo-comportamental (TCC) no tratamento de transtornos específicos, como síndrome do pânico, fobias sociais e ansiedade generalizada. A terapia de exposição consiste em expor o paciente gradualmente a uma situação que ele teme para diminuir sua resposta excessiva de medo por meio da dessensibilização. Normalmente, começa com imagens, uso de realidade virtual e, só depois, a pessoa tenta ter contato direto com a situação temida ou o objeto fóbico.

Além de não ser um tratamento formal, a “terapia da rejeição” pode trazer consequências negativas. O fato de a pessoa filmar e postar situações constrangedoras nas redes sociais pode piorar quadros de ansiedade em indivíduos predispostos. “As novas gerações não estão acostumadas a ouvir ‘não’, e muitas pessoas saem em busca de soluções rápidas e simplificadas. Se essa pessoa não conseguir o engajamento que gostaria nas redes sociais e receber comentários ruins, por exemplo, isso pode piorar um quadro emocional”, alerta Stéphany.

Embora a “terapia da rejeição” possa parecer uma abordagem interessante para aqueles que buscam superar a insegurança, ela não deve ser encarada como uma solução imediata nem substituir tratamentos reconhecidos. “Se for para trabalhar de fato essa questão da rejeição e da frustração, é importante que esse processo seja feito por um profissional que possa acompanhar o paciente ao longo das sessões e discutir situações, para ajudá-lo a lidar com o enfrentamento das situações e evitar que ele se sinta mais ansioso ou desvalorizado”, propõe a psicóloga.