O leite materno é o mais completo para alimentar o recém-nascido, pois é rico em nutrientes e em agentes imunobiológicos que protegem contra várias doenças. Em crianças menores de 5 anos, o alimento pode reduzir em até 13% as mortes evitáveis nessa faixa etária.
“Além de fornecer todos os nutrientes essenciais ao bebê, o leite materno é facilmente digerido, o que reduz o risco de alergias alimentares e problemas gastrointestinais”, aponta a coordenadora das Políticas de Aleitamento Materno da Secretaria de Saúde (SES-DF), Mariane Curado Borges.
Nem toda mãe, contudo, consegue amamentar, seja por dificuldades práticas, seja por um parto prematuro que exige a internação do bebê na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal. Nesses casos, os bebês dependem do leite de um dos dez Bancos de Leite Humano (BLH) do Distrito Federal.
É o caso da pequena Maria Cecília, hoje com 3 meses. Ela nasceu na 26ª semana de gestação, pesando apenas 735 g. A mãe Deisiane Santiago de Souza conta das inseguranças com o nascimento prematuro da filha somado ao fato de que ainda não tinha começado a produzir leite. “Foi muito sofrimento. É a minha primeira filha e eu não sabia nada sobre amamentação nem que pudesse procurar auxílio no banco de leite. Meu pensamento era sempre de que ela passaria fome”, lembra a vendedora.
Mas Deisiane conseguiu suporte com os profissionais do BLH e Maria Cecília está mais forte. Além do leite doado, a mãe recebeu orientações sobre massagem, ordenha e coleta. A filha está com 2 kg e ainda segue internada na UTI Neonatal do Hospital Regional de Taguatinga (HRT).
A história de Deisiane e Maria Cecília ilustra a história de tantos outros pacientes. O leite humano segue como protagonista no fortalecimento de bebês prematuros e/ou internados. Cada pote de leite doado pode beneficiar até dez recém-nascidos. Toda pessoa que amamenta pode ser uma doadora, basta estar com a saúde em dia e não usar medicamento que seja incompatível com a amamentação.
Quem quiser doar pode ligar para o número 160 – opção 4, ou se cadastrar no site do Amamenta Brasília. A pessoa irá receber orientações sobre como realizar a coleta e o armazenamento do leite em casa, sem a necessidade de deslocamento aos hospitais. Uma equipe do Corpo de Bombeiros do DF fará a entrega do kit para coleta e, semanalmente, irá à residência buscar a doação.
Queda de arrecadação
O DF se destaca pelos índices de aleitamento materno e também é referência nacional na política de BLH. O final e o início de ano, porém, costumam provocar uma redução nas doações de leite e, consequentemente, uma queda importante nos estoques.
Os BHLs do DF tem como meta arrecadar dois mil litros de leite por mês. O montante abastece um estoque que atende, em média, 250 bebês por dia, internados nos hospitais da capital federal. “De novembro do ano passado até agora, fevereiro, ficamos abaixo dessa meta mensal”, aponta a coordenadora. “Passamos de 2 mil litros em outubro a 1.750 litros em novembro. Fechamos janeiro com apenas 1.500 litros de leite coletado. A expectativa é de que em março os estoques voltem a subir.”
Segundo a Borges, é comum a redução nas doações durante o período de férias. O carnaval logo após também impactou. Por isso, segundo ela, é fundamental a colaboração de lactantes saudáveis. “O gesto salva vidas”, reforça.
O leite materno não apenas encurta as estadias hospitalares de recém-nascidos, como também proporciona um futuro saudável a essas crianças
Alimento completo
O leite materno não apenas encurta as estadias hospitalares de recém-nascidos, como também proporciona um futuro saudável a essas crianças. Segundo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Ministério da Saúde, bebês prematuros, ou que enfrentam patologias, apresentaram mais chances de recuperação e de desenvolverem uma boa saúde ao longo da vida ao receberem leite materno no período de internação em UTI neonatal.
Trata-se de um alimento especificamente adaptado às necessidades do bebê. Em sua composição, o leite humano apresenta carboidratos, proteínas, lipídios, vitaminas, minerais, substâncias imunocompetentes (imunoglobulina A, enzimas, interferon), além de fatores moduladores de crescimento e ácidos graxos essenciais, cruciais ao desenvolvimento do sistema nervoso e cerebral.
Além disso, os componentes do leite materno variam ao longo do tempo, ajustando-se às necessidades em constante mudança do bebê à medida que cresce.
Doação de leite, doação de vida
A servidora da Secretaria de Educação (SEE-DF), Fernanda Evangelista de Sousa, é mãe do pequeno Augusto, de 8 meses. Ela conta que sempre teve o desejo de doar leite, visto que também é doadora de sangue. “Entrei em contato com o banco de leite do Hospital Universitário de Brasília [HUB] e foi bem rápido. Enviei os exames que fiz no pré-natal, fui cadastrada e logo entraram em contato comigo”, conta. “Teve semana que consegui doar cinco vidros. E eu tirava só uma vez por dia, pela manhã”, celebra.
Fernanda se emociona e afirma que a doação de leite foi gratificante. “É uma trajetória muito bonita. Eu recebia cartinhas das mães que precisaram do leite. Ler os testemunhos delas agradecendo foi lindo demais.”
*Com informações da SES-DF
Por Agência Brasília* | Edição: Débora Cronemberger