A Audiência ocorre no dia 22/08 e pode ser acompanhada pela população via TV Câmara

A Câmara dos Deputados realizará na próxima terça-feira (22/08) às 9h30 audiência pública para tratar da disponibilização de ações de saúde contra o AVC no Sistema Público de Saúde. As ações vão desde programas de prevenção, diagnóstico no tempo correto e tratamento, como a tão esperada Trombectomia Mecânica – terapia que aumenta em até 3X as chances de pacientes com AVC isquêmico ficarem com poucas ou nenhuma sequela, conforme aponta o estudo Resilient. A sessão contará com a presença do Ministério da Saúde, Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), Instituto Lado a Lado pela Vida, a Sociedade Brasileira de AVC e da Sociedade Brasileira de Neurorradiologia Diagnóstica e Terapêutica (SBNR).

O Acidente Vascular Cerebral é a 2ª causa de morte e a 1ª causa de incapacidade no mundo de acordo com a World Stroke Organization. Para os casos de AVC isquêmico, a Trombectomia Mecânica pode mudar esse cenário ao reduzir ou eliminar as sequelas provocadas pela doença. O tratamento só pode ser realizado em pessoas no período de até 24h após o início dos sintomas da doença.

Embora a Trombectomia Mecânica (TM) tenha recebido a recomendação de incorporação no SUS, por parte da CONITEC em 2021, como um tratamento comprovadamente seguro, eficaz e custo-efetivo contra o Acidente Vascular Cerebral Isquêmico (AVCi), a técnica ainda não está disponível para a população. É necessária a publicação do Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) pelo Ministério da Saúde para que a sua efetiva operacionalização no sistema público de saúde ocorra.

Desde a sua aprovação, em dezembro de 2021 até agora, estima-se que mais de 60.000 pessoas deixaram de ser tratadas e beneficiadas pela TM na rede pública.

O que é o AVC?

O Acidente Vascular Cerebral (AVC) ocorre quando há uma alteração na circulação sanguínea do cérebro. Ele pode ser isquêmico – quando um vaso sanguíneo no cérebro fica bloqueado devido a um coágulo ou trombo – que é o tipo mais comum, correspondendo a 85% dos casos, ou o hemorrágico – quando a artéria se rompe e o sangue extravasa. O AVC é a 2ª causa de morte e a 1ª causa de incapacidade no mundo. Cerca de 70% dos indivíduos que sofrem um AVC não retornam ao trabalho em razão de sequelas da doença.

O total de óbitos por Acidente Vascular Cerebral no Brasil foi de 101.965, em 2019; 102.812, em 2020; e 84.426, de janeiro a 27 de outubro de 2021. Os idosos continuam a ser o grupo com maior prevalência.

Minimamente invasiva, a Trombectomia Mecânica (TM) complementa a trombólise, única opção até então disponível na rede pública de saúde, e nem sempre eficiente para os casos mais graves do AVCi. Além de segura e eficaz, uma das grandes vantagens da TM é que pode ser utilizada até 24 horas após os primeiros sintomas do AVC com sucesso, enquanto outras formas de tratamentos, como os medicamentos trombolíticos, têm uma janela restrita de indicação e sucesso somente até 4,5 horas depois das manifestações iniciais da doença.

“Estamos falando de uma conquista de valor inquestionável para uma doença cujos sintomas nem sempre são notados em curto espaço de tempo, bem como existem atrasos na busca imediata pelo auxílio médico especializado. Sabe-se hoje que apenas 30% dos pacientes procuram as instituições de saúde no período de até 8h após o início dos sintomas do AVC. Como a cada minuto que passa são 2 milhões de neurônios que morrem, imagine os estragos dessa falta de agilidade e as sequelas da doença na vida do paciente?”, questiona o Dr. Francisco José Mont’Alverne, membro do Comitê executivo da Rede Resilient de pesquisa em AVC.

“O AVC deve ser tratado como uma importante questão de saúde pública e, se as instâncias competentes já recomendaram a tecnologia que pode evitar óbitos e dar mais qualidade de vida aos pacientes, ela deveria ser disponibilizada no SUS com agilidade, assim como ocorre aos pacientes que têm acesso à saúde suplementar.”, argumenta Marlene Oliveira, presidente do Instituto Lado a Lado pela Vida, organização que dedica esforços para nutrir a população brasileira com informações qualificadas e oferecer orientação sobre as políticas públicas de saúde.

Sobre o procedimento

A Trombectomia Mecânica consiste na desobstrução da artéria cerebral realizada por um cateter que leva um dispositivo endovascular, um stent ou um sistema de aspiração, para remover o coágulo sanguíneo do cérebro.

Com o procedimento, a taxa de recanalização na oclusão de grandes vasos chega a 77% (NOGUEIRA, 2018, WHITELEY, 2017), significativamente mais eficiente que o tratamento convencional de trombólise endovenosa, com 11% (TSIVGOULIS, 2018). A trombólise endovenosa, tratamento medicamentoso com uso de trombolítico, deve ser aplicado em até 4h30 após os primeiros sintomas.


A TM proporciona também melhor qualidade de vida ao paciente, aumentando a sua capacidade funcional (cognitiva e motora) e dando maior independência no pós-AVC. Estudos apontam ainda que 46% dos pacientes que foram submetidos a essa nova técnica se mostraram independentes após três meses de tratamento, contra apenas 26,5% do grupo que recebeu a trombólise endovenosa (GOYAL, 2016). Em suma, a trombectomia mecânica reduz as taxas de mortalidade, o tempo de internação e dá mais chances para a boa recuperação no pós-AVC.

Informações de apoio

 

  • Sintomas mais comuns do AVC: perda da força muscular ou formigamento, nos braços ou pernas, principalmente de um lado do corpo, assimetria facial, dificuldade de fala, dificuldade da visão, além de fortes dores de cabeça. Em caso desses sinais, ligue imediatamente para o SAMU 192.
  • Além dos óbitos causados pelo AVC, cerca de 50% dos sobreviventes passam a ter sequelas, que levam à dependência parcial ou total, e até 30% desenvolvem algum tipo de demência nos meses seguintes.

     
  • Já aprovada nos Estados Unidos, países da Europa, Canadá e Austrália, além de chancelada por guidelines internacionais e sociedades médicas da área, a Trombectomia Mecânica teve eficácia e custo-benefício analisados por nove estudos clínicos. A técnica, no entanto, não havia tido até então a sua viabilidade de implementação evidenciada em um país em desenvolvimento.

     
  • Para atender essa necessidade, surgiu o Resilient, estudo colaborativo da Rede Nacional de Pesquisa em AVC, com financiamento do Ministério da Saúde, realizado em 12 hospitais públicos do país, e com 221 pacientes. A pesquisa foi coordenada pela Dra. Sheila Martins.