Nos últimos anos, o Brasil tem registrado um aumento significativo no número de cirurgias para corrigir a “língua presa” em recém-nascidos. Conhecida como frenectomia, essa intervenção visa melhorar a amamentação ao liberar o frênulo lingual, uma faixa de tecido que conecta a língua ao assoalho da boca. Segundo dados do Ministério da Saúde, o número de frenectomias realizadas no Sistema Único de Saúde (SUS) aumentou 65% entre 2021 e 2023, passando de 28.777 para 47.619 procedimentos.

Apesar do crescimento, especialistas alertam para a necessidade de cautela. A Academia Americana de Pediatria (AAP) publicou um relatório destacando que a popularização da frenectomia pode levar a intervenções desnecessárias, com riscos potenciais para a saúde dos bebês. A entidade ressalta que a dificuldade de amamentação nem sempre está relacionada à anatomia da língua e que outros fatores, como a técnica de amamentação, também devem ser considerados.

A cirurgiã-dentista Aline Moreno, especialista em odontopediatria e aleitamento materno, observa que muitas mães buscam a frenectomia influenciadas por informações nas redes sociais e relatos de celebridades. “O início da maternidade é um período de muita fragilidade e pressão. Se a mãe enfrenta dificuldades de amamentação e ouve falar de algo supostamente milagroso, é natural haver um interesse”, explica.

Desde 2014, o “teste da linguinha” é obrigatório em maternidades brasileiras para identificar casos de anquiloglossia, condição popularmente conhecida como “língua presa”. No entanto, a decisão de realizar a cirurgia deve ser cuidadosamente avaliada por um especialista, considerando os benefícios e possíveis complicações.

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomenda que a frenectomia seja indicada apenas quando há evidências claras de que a anquiloglossia está prejudicando a amamentação e que outras intervenções não foram eficazes. “É fundamental que os pais recebam orientações adequadas e que a decisão seja tomada com base em uma avaliação criteriosa”, afirma a SBP.

Em resumo, enquanto a frenectomia pode ser uma solução eficaz para alguns casos de “língua presa”, é crucial que a indicação do procedimento seja feita com responsabilidade e embasamento científico, evitando intervenções desnecessárias e garantindo a saúde e bem-estar dos recém-nascidos.